
Convidada do Festival Piauí GloboNews de Jornalismo para o quadro Conversa com a Fonte, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, repudiou as especulações do general Antonio Hamilton Mourão sobre uma possível intervenção militar:
– A gravidade é a aflição que esse tipo de declaração provoca em tempo de tanto desassossego. A democracia não está em questão. É um desserviço que se cogite o não cumprimento da Constituição.
Questionada sobre a frouxidão com que o governo Temer tratou a afirmação do general, Cármen Lúcia desconversou:
– Já tenho problemas demais para saber qual é o problema dos outros poderes. A pergunta é bem feita, mas está mal dirigida.
Instada por um espectador a falar “do conforto de sua cadeira” sobre a situação dos presos provisórios, a ministra, normalmente serena, exaltou-se:
– Confortável não me sinto desde que entrei no STF. O meu trabalho não acaba nunca. Não reclamo, porque ninguém é obrigado a ser juiz. Quem tem mil ideias para resolver os problemas, venha nos ajudar.
Lembrando que visitou os piores presídios do país, Cármen Lúcia disse que, se brasileiros soubessem tudo o que ela sabe, teriam muita dificuldade para dormir.
Discreta e avessa a entrevistas, a ministra mostrou certo desconforto com as perguntas sobre o comportamento do ministro Gilmar Mendes. Disse que cada ministro pode se declarar impedido de julgar determinada causa e que ela mesma não quis se manifestar sobre uma ação envolvendo os planos econômicos porque seu pai, com 97 anos, tinha uma demanda contra um banco. Só quando o pai desistiu da ação ela se sentiu em condições de julgar o caso. Em relação a Gilmar, disse que um ministro não pode calar o outro:
– Somos 11 iguais.
(Rosane de Oliveira, de São Paulo)