Reciclar é um ato de amor ao planeta Das coisas que mais admiro na Alemanha e no Japão está a forma como a população se relaciona com o lixo. As cidades alemãs e japonesas que conheço estão entre as mais limpas do mundo. Desde pequenas, as crianças aprendem a não jogar papel no chão. Nas escolas japonesas, os alunos limpam as salas de aula antes de ir embora _ e não se tem notícia de que algum pai ache que o Estado está explorando seus rebentos.
Em 1999, quando estive pela primeira vez na Alemanha, encantei-me com algumas experiências de proteção do planeta. Em Munique, minha intérprete contou que a prefeitura oferecia, gratuitamente, um serviço de lavagem e esterilização de fraldas de pano. Objetivo: desestimular as famílias a usarem em seus bebês fraldas descartáveis, que poluem o ambiente. No interior da Baviera, visitei uma empresa de reciclagem de plástico _ à época uma novidade para nós, que estávamos estreando na separação dos resíduos secos dos orgânicos.
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Em 2006, no Japão, fiquei boquiaberta com a limpeza das cidades. Em Tóquio, Kioto, Nara e Hiroshima não vi sequer uma bagana de cigarro no chão _ e isso que era época de Copa do Mundo da Alemanha e os jovens se reuniam nas madrugadas para assistir aos jogos. Um professor universitário me contou que na cidadezinha dele, na periferia de Tóquio, os moradores pesavam o lixo e pagavam à prefeitura pelo volume produzido.
Em contraste, a China me assustou quando estive lá pela primeira vez, em 2004, e me deixou à beira de uma crise de pânico nove anos depois. O aumento da poluição da terra, da água e do ar era visível a olho nu, preço do crescimento econômico sem preocupação com a preservação ambiental.
No Brasil, estamos mais para a China do que para Japão e Alemanha. O Guaíba se parece mais com o Rio Amarelo do que com a Baía de Tóquio, o Elba, o Danúbio ou o Spree. Em diferentes bairros, os moradores jogam resíduos sólidos nos contêineres de lixo orgânico. Em busca de material reciclável, os catadores entram nas lixeiras, separam o que é do seu interesse e deixam restos pelas calçadas.
O Arroio Dilúvio é um exemplo da forma como o porto-alegrense lida com o ambiente: em suas águas poluídas boiam de copos de plástico, garrafas PET, pneus e, não raro, eletrodomésticos descartados ao longo da Avenida Ipiranga. Em um ano, a Ecobarreira instalada perto da Foz do Dilúvio (projeto que merece ser aplaudido de pé) impediu que 141 toneladas de resíduos fossem parar no Guaíba.
Pela convicção de que reciclar é um ato de amor ao planeta, sou obsessiva pela separação do lixo. Não me contento em separar resíduos sólidos de orgânicos, como exige a convenção do nosso condomínio. Tenho prazer em separar as garrafas e doá-los á dona de uma lojinha de flores da Rua 24 de Outubro que as utiliza como vasos. Curioso é que não sei o nome da moça e acredito que ela também não sabe o meu. Os jornais velhos são divididos entre o restaurante que vende tortéi e capeletti congelado e a floricultura que os utiliza para forrar o porta-malas dos carros dos clientes. Caixas de ovo, para o senhorzinho que vende ovos caipiras em uma Kombi no Parque Eldorado. Vidros de conserva voltam para agricultores familiares de quem compro compota de fruta ou molho caseiro de tomate.