Ainda não fui à praia neste verão. Leio que o mar nunca esteve tão azul. Vejo as fotos que os amigos postam nas redes sociais com legendas do tipo "estou no Caribe" e fico tentada a dar uma esticadinha até o Litoral, caminhar na areia, tomar um banho de mar. Mas os relatos de outros amigos me fazem desistir. Dizem que a praia ficou insuportável depois que ao inferno das caixas de som em carros estacionadas na rua somou-se a praga das caixinhas superpotentes que reproduzem por bluetooth as playlists do celular sob o guarda-sol a seu lado.
Sou do tipo que considera sagrado o direito ao silêncio e à escolha da música ou do ruído que cada um quer ouvir. Por que sermos obrigados a ouvir o funk do vizinho de barraca, o rock pauleira ou a dupla sertaneja que se rasga para interpretar uma canção de versos infames? Que cada um escute o que gosta – e gosto não se discute – mas sem desrespeitar os ouvidos alheios.
Leio também que agora a moda é fazer churrasco na praia. Então quer dizer que o cheiro de mar também acabou? Por cheiro de mar entenda-se aquela mistura de conchas com perfume de bronzeador. Churrasco? Mesmo que eu não coma, acho que o cheiro até é bom, mas na churrascaria ou em em casa. Na areia? Misturado com Rayto de Sol? Sei não, mas parece bem estranho.
Conheci o mar aos 17 anos, na viagem de formatura do Ensino Médio. Foi encantamento à primeira vista. O som das ondas quebrando o silêncio ficou impressa na memória como registro daquela experiência mágica. De imensidão eu só conhecia a dos campos verdes. A imensidão azul me arrebatou, mesmo que na parte rasa o tom lembrasse o do velho Jacuí.
Como preciso escolher onde aplicar a folga do fim de semana, opto por esta casinha de campo, onde eu posso curtir meus amigos, meus discos, meus livros, e ficar no tamanho da paz, como na canção da imortal Elis Regina. Aqui o silêncio é quebrado por um canto de quero-quero ou de uma cigarra, o latido de um cão ou o zumbido das abelhas. Eu quero lembrar o silêncio da infância no campo e o direito de pensar sem trilha sonora. Será pedir demais?