Se a Justiça não tivesse proibido em nome da legalidade, junto com a eleição deste domingo estaria sendo realizado um plebiscito informal para o eleitor dizer se concorda ou não com a separação de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná para a criação de um país que provisoriamente é chamado de Sul. A ideia de um certo grupo denominado O Sul é meu país, de realizar uma consulta popular no dia da eleição municipal, é dessas bobagens que não mereceriam mais do que um comentário de 140 caracteres. Mas, como o assunto ganhou pernas nas redes sociais, e a consulta (frustrada) foi antecipada para a véspera da eleição, é preciso jogar alguma luz sobre o tema, para que pessoas de boa-fé não sejam enganadas pelo discurso fácil dos vendedores de ilusões.
Não é de hoje que saudosistas do tempo em que o Rio Grande do Sul se imaginava acima do bem e do mal flertam com a ideia do separatismo, torcendo dados para passar a ideia de que, independentes, seríamos ricos como a Suíça ou teríamos, no mínimo, estradas boas como as do Uruguai, menos violência e melhor qualidade de vida. Na hora de contabilizar o que sai do Estado, em impostos, e o que retorna em serviço, são feitas contas em papel de pão, para concluir que, sem o Brasil, seríamos Primeiro Mundo.
Como perceberam que, sozinho, o Rio Grande do Sul não seria viável, os neosseparatistas agora querem incluir o Paraná e Santa Catarina na sua aventura, sem se importar com o fato de que a maioria dos nossos vizinhos ri desses delírios. Com Santa Catarina no pacote, o país imaginário teria praias de água azul, fábrica da BMW, polo cerâmico e tudo o que nos causa inveja acima do Mampituba. O Paraná garantiria, entre outras vantagens, a usina de Itaipu e obrigaria o Brasil a importar nossa energia – e a fazer imigração para comprar bugigangas no Paraguai.
Como Paraná e Santa Catarina não demonstram interesse em embarcar nessa aventura, os defensores do separatismo precisam pensar seu país inventado considerando apenas o território, as riquezas e as misérias do RS.
Esse país fictício, que hoje não arrecada o suficiente para bancar as despesas, teria de pagar todas as dívidas e assumir a responsabilidade por estruturas colossais como as universidades federais, o Hospital de Clínicas e o Grupo Hospitalar Conceição. Seríamos obrigados a importar 100% do petróleo. Livres da Lei Kandir, que impõe a isenção de ICMS nas exportações de grãos, por exemplo, poderíamos, enfim, cobrar o imposto de que tanto reclamam os servidores públicos – desde que os importadores da soja gaúcha aceitassem pagar mais do que pagam pelo que compram de Mato Grosso ou de outros Estados brasileiros produtores.
País fictício
Não caia no conto do separatismo
Na hora de contabilizar o que sai do Estado, em impostos, e o que retorna em serviço, são feitas contas em papel de pão
Rosane de Oliveira
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