Com seis votos já declarados a favor da aceitação da denúncia do procurador-geral da República, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, passará a ser réu no momento em que terminar o julgamento no Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira à tarde. Em tese, os ministros que já anunciaram seu voto podem mudar de ideia, mas é improvável que algum dos seis o faça. Por isso, a pressão agora é para que Cunha renuncie à presidência da Câmara, mas ele diz que não vê nada de errado em continuar.
Processado não é condenado, e a Constituição diz que todo cidadão tem direito à ampla defesa, mas a permanência de Cunha na presidência da Câmara é uma afronta. Até deputados que apoiaram sua eleição estão pedindo que renuncie, na tentativa de salvar o pouco que resta da imagem do parlamento.
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Cunha não quer renunciar porque sabe que seu poder vem do cargo que ocupa. Na presidência, ele dá as cartas e usa o conhecimento do regimento interno para manobrar e protelar o julgamento no Conselho de Ética. Se renunciar, corre o risco de apressar a cassação do mandato e perder o foro privilegiado. Se sua situação é ruim no Supremo Tribunal Federal, pior ficará se tiver de enfrentar o destino dos sem-mandato investigados na Lava-Jato e passar uma temporada em Curitiba.
O Supremo ainda vai analisar o requerimento do procurador Rodrigo Janot, que pede o afastamento de Cunha com a alegação de que ele usa o cargo para atrapalhar as investigações. Esse é o próximo capítulo da novela.
A derrota de Cunha no Supremo enfraquece o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, mas não sepulta o pedido. O destino de Dilma na Câmara vai depender do surgimento ou não de fatos novos. Uma mudança no comando da Casa pode retardar ou acelerar o processo, dependendo do perfil de quem for eleito. Alguém com mais credibilidade do que Cunha pode ser prejudicial aos interesses do Planalto.
Os elogios dos demais ministros ao voto do relator Teori Zavascki, favorável à aceitação da denúncia contra o presidente da Câmara, atestam que o trabalho do Ministério Público foi bem fundamentado. No Supremo, Cunha não tem o poder de manipulação que lhe permitiu mandar e desmandar na Câmara até agora, mas até entre seus pares o vento começou a virar com a aprovação da abertura do processo no Conselho de Ética.