A descoberta de que a Odebrecht tinha um setor de propinas, revelada na Xepa, a 26ª fase da Operação Lava-Jato, virou assunto secundário diante da bomba que explodiu na noite desta terça-feira: o anúncio da construtora de que seus executivos farão um acordo de “colaboração definitiva”. Eufemismo para a delação premiada, que Marcelo Odebrecht não queria fazer por considerar imoral, a “colaboração definitiva”, se soma ao acordo de leniência, pelo qual a empresa entrega os anéis para salvar os dedos.
A nota divulgada pela Odebrecht é vaga, porque até a homologação os acordos de delação devem ser mantidos em sigilo. Mas o potencial de estrago é superior até mesmo à delação do senador Delcídio Amaral, a metralhadora giratória que espalhou suspeitas para todos os lados. Porque a Odebrecht tem planilhas e comprovantes de depósitos que valem por mil palavras.
O Ministério Público Federal não confirma os acordos, mas está avaliando quais delações podem contribuir para iluminar as zonas de sombra no esquema de pagamento de propina a executivos de estatais e a políticos.
O quebra-cabeça começou a se fechar com a delação de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht, presa na Operação Acarajé. Foi ela quem deu sentido às planilhas com codinomes e valores pagos pela empreiteira em uma contabilidade paralela. Nessa lista, Feira é Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, que fez as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Já foram identificados pagamentos milionários ao casal, entre novembro de 2014 e abril de 2015.
Se for confirmado o repasse de dinheiro ilegal para a campanha de 2014, não é só o mandato de Dilma que fica ameaçado. É a chapa completa, incluindo o vice-presidente Michel Temer, que já está fardado para assumir a Presidência em caso de impeachment. A ação que corre no Tribunal Superior Eleitoral tenta impugnar o mandato dos dois.
A Odebrecht é uma das maiores financiadoras de campanha. Doa para quem tem possibilidades reais de chegar ao poder, numa espécie de investimento futuro. Nessa lista, estão candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual, prefeitos e vereadores.