Desde a criação do Ministério da Defesa, em 1999, por meio de emenda constitucional, a premissa é a subordinação das três Forças Armadas (Exército, Aeronáutica e Marinha) ao poder civil. Ainda que esse não seja um ponto pacífico, é assim nas principais democracias do planeta. É o estado normal. As exceções, no Brasil, foram nos governos dos presidentes Michel Temer (general Joaquim Silva e Luna) e Jair Bolsonaro, que teve três militares no comando da pasta - os generais Fernando Azevedo e Silva, Walter Braga Netto e o atual Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.D os 14 ministros da Defesa, apenas quatro foram militares.
Um dos princípios basilares da democracia é que as forças encarregadas da defesa da soberania de um país obedeçam a uma estratégia de Estado e a decisões políticas. Além disso, um civil coordenando as três forças evita a sensação de primazia de uma sobre as outras. No caso dos ministros de Temer e Bolsonaro, como se vê, todos eram generais de Exército, o que, em algum momento acaba gerando rivalidade.
Não deveria surpreender o anúncio do coordenador dos núcleos técnicos da transição, Aloizio Mercadante (PT), na sexta-feira (18), de que o comandante da pasta será alguém de fora da caserna. O que chama atenção é a demora na divulgação dos nomes para o tema. Das 31 áreas temáticas de trabalho da transição de governo, mais de 300 integrantes foram anunciados. Mas nenhum da Defesa.
A militarização do atual governo, o antipetismo nos quartéis e a politização das Forças Armadas, trazem alguma preocupação aos assessores de Lula. Nos bastidores, eles admitem que a área é sensível (Mercadante chegou a falar em "problema institucional").
O cuidado foi maior nas últimas semanas, inicialmente pela espera do relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas. Mas, mesmo depois de divulgado o parecer, a ideia foi ampliar o diálogo com as forças e ir pavimentando boa relação para os próximos quatro anos. A ordem é evitar atritos.