Das voltas que o mundo dá.
A milícia Talibã surgiu a partir dos mujahedins que, financiados pelos Estados Unidos, lutaram contra os soviéticos na Guerra do Afeganistão, entre 1979 e 1989.
Vencedores, os "combatentes islâmicos" deram origem ao grupo extremista, com preponderância da etnia pashtun, que chegou ao poder no Afeganistão em 1996. Daquele ano até 2001, a organização implantou um regime de terror no país, com mulheres sendo proibidas de trabalhar e estudar, tendo de usar burca (vestimenta que cobre o corpo da cabeça aos pés) e homens tendo membros ceifados em praça pública por crimes cuja punição tinha como base da sharia, a lei islâmica.
Destronado o Talibã, em 2001, morto Osama bin Laden, em 2011, no Paquistão, as guerras americanas do século 21 pariram algo ainda pior.
Ao estenderem a chamada "Guerra ao Terror" ao Iraque, com o falso pretexto das armas de destruição em massa nunca encontradas e a debacle de Saddam Hussein, os Estados Unidos insuflaram a criação do Estado Islâmico, o EI ou Isis, em sua forma em inglês, Islamic State of Iraq and Syria.
O EI se originou a partir de antigos integrantes do regime de Saddam e de centenas de mujahedins que migraram para o Iraque e a Síria a partir de Europa, Ásia e África.
Em algum momento, a Al-Qaeda rompeu com o grupo por entender que ele era ainda mais extremista, se é que isso era possível.
A Al-Qaeda matou 3 mil pessoas no 11 de setembro de 2001. Dá pra imaginar algo pior? Mais sanguinário?
O EI decapitava pessoas em frente às câmeras, entre elas muitos jornalistas. Em alguns casos, os submergia dentro de jaulas em rios ou lagos, em um show macabro para o mundo ocidental assistir.
Não há como medir o terror. O sofrimento não tem métrica.
Mas voltemos à história. A Al-Qaeda foi destroçada pelos bombardeios americanos e da Otan ao Afeganistão. Demorou, mas Bin Laden foi morto em Abbotabad.
O EI sucumbiu no Iraque e na Síria sob ataque americano e aliados, dos militares iraquianos, diante da bravura dos peshmerga (tropa do Curdistão) e em meio ao saco de gatos dos que lutavam contra os barbudos na Síria, com apoio do regime do ditador Bashar al-Assad - que aproveitou e esmagou a oposição na falida Primavera Árabe em seu país com o respaldo do presidente Vladimir Putin, da Rússia.
Dilacerado em seu falso califado - que não era nem Estado e muito menos islâmico, uma vez que travestiu de mentiras os ensinamentos do Corão -, o EI perdeu força. Seu líder líder, Abu Musab al-Zarqawi, um carniceiro cujas cenas na mesquita de Mosul causam repugnância ao deturpar o Islã, foi morto em 2019.
Faliu o califado.
Eis aí porque as explosões desta quinta-feira (26) são tão importantes, infelizmente. Como a Al-Qaeda, que espalhou suas células pelo Ocidente, o EI deixou franquias que cedo ou tarde atacarão - na Ásia, na Europa, nos EUA ou na América Latina.
A Europa foi o palco de sua prática de terror pós-torres-gêmeas: Paris, Londres, Nice, Berlim, Bruxelas...
Mas Estados falidos, como o Iraque, a Somália e o Afeganistão, são seu ninho.
O Afeganistão sob a nova era Talibã é prato perfeito para esses extremistas implantarem seu regime, seu mundo particular de horror.
O Talibã protegeu a Al-Qaeda, que, em sua extensão, chegou ao Iraque e foi ressignificada pelo EI. Aparentemente neutralizado, mas não destruído, o grupo ressurge no Afeganistão.
O terrorismo não tem fim!
O atentado ao aeroporto do Afeganistão, cenário mais dramático dos últimos dias na política internacional, marca o retorno do EI à ativa: do Afeganistão ao Iraque e à Síria, o extremismo retorna às origens.
A Guerra ao Terror fracassou.
É o terror depois do terror.