A foto acima, que também ilustra a contracapa da edição impressa de Zero Hora desta terça-feira (11), é daquelas de provocar inveja em nós, brasileiros, que patinamos na vacinação contra a covid-19: turistas latino-americanos sendo imunizados na beira da praia de Miami Beach, na Flórida. No domingo, a fila se estendia pela areia sob o sol do meio-dia.
A imagem foi distribuída mundo afora no mesmo dia em que a Nova York do governador democrata Andrew Cuomo decidiu distribuir vacinas no metrô da cidade. Quem receber a imunização em uma das seis estações contempladas pelo programa terá direito a viagens gratuitas por uma semana.
Os esforços dos governos estaduais nos Estados Unidos para estimular a vacinação de maiores de 16 anos têm se multiplicado nas últimas semanas: vão de ingressos grátis para eventos esportivos a cervejas e donuts - e até baseado distribuído por uma associação que defende a descriminalização do uso da maconha, segundo a agência de notícias AFP.
A decisão de estender a vacina aos turistas - em tese, a Flórida do governador republicano Ron DeSantis imuniza apenas residentes ou que trabalham no Estado - e o estímulo aos usuários do metrô de Nova York são iniciativas de saúde pública fundamentais no país que lidera o número de infectados e mortos pela tragédia covid-19. Mas são mais do que isso: representam grandes ações de marketing, que ajudam a promover os Estados Unidos como exemplo a ser seguido pelo mundo, ou pelo menos pelo mundo onde a vacina está ao alcance. Infelizmente, essa não é uma realidade na maioria dos países.
Por décadas, os Estados Unidos exerceram seu papel de liderança global, utilizando-se, como nenhum outro, de seu poder de atração. A Disney e as praias de Miami Beach, nesse quesito, foram fundamentais. Mas também há Las Vegas, Nova York , Chicago, San Francisco e Los Angeles, que serviram de palco para filmes, música, comida, esporte, jeito de se fazer negócios, que moldaram o "american way of life" e levaram milhares de pessoas no mundo a desejar um dia conhecer o país.
Tudo isso projeta imagem, influencia o imaginário global e o desejo de muitos de visitarem os Estados Unidos - no caso específico de Nova York e Miami, turbinando, agora, o "turismo da vacina".
Nos últimos anos, o poder de atração americano andou em baixa, principalmente por decisões equivocadas do governo federal de erguer um muro na fronteira com o México, de separar filhos e pais de imigrantes sem documentos e levá-los para centros de detenção que pareciam jaulas e por proibir a entrada de viajantes de alguns países islâmicos.
O "America First" fechava os Estados Unidos em si. A vacinação reabre.
O país de volta ao cenário global, seja liderando as discussões sobre as mudanças climáticas seja administrando, nas praias ou no metrô, o único "elixir" contra a covid-19 comprovado pela ciência: a prevenção. Ainda que nos cause uma pontinha de inveja.