Prevista inicialmente para o mês que vem, a inauguração da nova Estação de pesquisas Comandante Ferraz, na Antártica, ficou para março de 2020.
Mas a estrutura, segundo a Marinha, está praticamente pronta. A Força acredita que as obras de construção, instalação de sistemas e mobiliário do complexo serão concluídas até 31 de março deste ano. Durante o inverno antártico — período no qual o trabalho fora da estação é dificultado pelas condições do tempo —, os engenheiros pretendem fazer testes na nova casa, período chamado de "comissionamento". A partir de novembro, o complexo científico poderá receber definitivamente militares e pesquisadores.
Além da necessidade de se fazer testes nos equipamentos antes da abertura oficial, um motivo apontado pela Marinha para adiar a inauguração é as condições meteorológicas. Em março, os primeiros sinais do inverno já dão as caras: a temperatura cai muito, e os ventos se intensificam. Da cerimônia, no ano que vem, devem participar altas autoridades militares e civis, inclusive o presidente Jair Bolsonaro.
A velha estação de pesquisas brasileira, instalada em 1984, foi destruída por um incêndio em fevereiro de 2012. Dois militares morreram na tragédia. Desde então, o chamado Grupo Base — 15 marinheiros que permanecem no continente gelado durante um ano — passou a operar no Módulo Antártico Experimental (MAE), um complexo de contêineres próximo ao local da obra da nova estação. Apesar da destruição pelo fogo, as pesquisas não pararam. Pesquisadores que continuaram viajando para a Antártica seguiram trabalhando no MAE, em acampamentos em diferentes pontos do continente e a bordo do navio polar Almirante Maximiano. Também são realizados estudos por meio do módulo criosfera 1, instalado no interior do continente.
Orçada em US$ 99 milhões, a nova estação é construída pela empresa chinesa Ceiec. Segundo a Marinha, nos últimos meses, a companhia aumentou o número de operários na área para mais de 280. GaúchaZH visitou o local em fevereiro de 2018, quando apenas o esqueleto do bloco Oeste da estação estava praticamente pronto. Hoje, o cenário é bem diferente. O complexo já está revestido externamente — na cor verde, mais escuro do que a antiga. O interior também começa a ganhar cara de estação de pesquisa: salas e dormitórios, segundo a Marinha, já começam a ser delineados. A nova estação terá 4,5 mil m², poderá acomodar até 64 pessoas e contará com 17 laboratórios, além de alojamentos e espaços de convivência e de lazer.
Na Antártica, o Brasil faz estudos nas áreas de glaciologia, climatologia, meteorologia, química e biologia. Realizar pesquisas científicas no continente é um dos requisitos exigidos pelo Tratado Antártico para um país continuar tendo direito a voto nas decisões sobre o futuro da região, uma imensidão de gelo e terra encharcada de petróleo, gás e com espécies ainda desconhecidas.
A presença também é estratégica. Assinado em 1º de dezembro de 1959, o acordo barra qualquer tentativa de algum governo reivindicar para si parte do território, realizar experiências com armas atômicas ou extrair riquezas minerais. Em outras palavras, a Antártica não pertence a nenhum país, embora potências tenham se instalado em locais estratégicos do território: os EUA, por exemplo, têm quatro estações permanentes, uma delas, Amundsen-Scott, no polo sul geográfico.
A alguns quilômetros dali, está a estação russa de Vostok. A maioria das estações de países latino-americanos fica na Ilha Rei George, onde está Ferraz. Em 1991, o Tratado Antártico foi estendido até 2041. Ou seja, haverá nova discussão. Por isso, é importante o Brasil, membro desde 1975, estar sentado à mesa de negociações.