Publicado na semana passada, um texto meu sobre a revitalização de mais um trecho da Orla do Guaíba incomodou um grupo considerável de leitores. Para mim, foi uma surpresa – quase sempre consigo prever quando algo que escrevo vai gerar polêmica, mas, desta vez, fui pego no contrapé.
Recebi uma série de e-mails e mensagens protestando contra a forma como descrevi o estado atual do trecho que será urbanizado. No meu texto, disse que a área à margem da Avenida Diário de Notícias, entre a escolinha do Grêmio e o Iate Clube Guaíba, hoje abriga um "matagal abandonado". Também escrevi que, atualmente, quem passa por ali enxerga apenas uma "vegetação disforme e descuidada".
Os leitores, alguns muito educados, outros nem tanto, argumentaram que essa vegetação, na verdade, é a natureza – e que eu, ao empregar adjetivos tão depreciativos, estaria sendo desrespeitoso com ela. Mais do que isso, estaria sendo egoísta e submisso aos interesses econômicos, por entender que só há valor na natureza quando ela é transformada em jardim para a gente desfrutar.
Não é nada disso. Mas faço aqui minha autocrítica: faltaram informações no texto que, se estivessem lá, teriam deixado mais clara minha posição. Em primeiro lugar, aquele trecho ali, como se sabe, faz parte do aterro idealizado na década de 1950 pelo urbanista Edvaldo Pereira Paiva. E um dos propósitos do aterro era justamente abrigar o Parque da Orla – que só agora, 70 anos depois, começa a tomar forma.
Ou seja, durante décadas, boa parte da região aterrada ficou abandonada. Não havia nada nela. Mas, claro, aos poucos começou a crescer no local uma vegetação própria de terrenos baldios. É o mato, também chamado de matagal. Não é a mesma coisa que mata, ou floresta, onde há uma grande densidade de árvores, além de todo tipo de fauna.
Portanto, não vejo qualquer problema em reafirmar que aquele espaço, justamente por ter sido negligenciado, ignorado, esquecido pelo poder público, abriga hoje um matagal abandonado. Claro que, ao longo de tantos anos, algumas árvores (lindas, por sinal) também apareceram: o inventário cadastral da vegetação – realizado pela empresa que vai bancar as obras de revitalização – mostra que existem aroeiras, pitangueiras, chal-chals, capororocas e cocões no local.
Essas árvores, obviamente, serão preservadas – e é muito provável que outras, também nativas, sejam plantadas. Isso, sim, a sociedade pode exigir no licenciamento ambiental da prefeitura. Porque assim se prioriza a natureza, e não um terreno baldio.