Com a ocupação das UTIs subindo sem parar, o prefeito Marchezan discute com secretários novas restrições às atividades econômicas, mas há um desconforto evidente nas reuniões. Como impor medidas restritivas se o prefeito eleito, Sebastião Melo, tem se manifestado publicamente contra elas?
Melo venceu a eleição. Tem o respaldo das urnas. A população aprovou seu projeto. Seria correto Marchezan, nos últimos dias de governo, tomar decisões que seu sucessor revogaria logo em seguida? Por outro lado, se o atual prefeito deixar de fazer o que acredita ser correto, não seria uma irresponsabilidade?
É complicado.
Embora estejam em debate, ainda não há certeza, no governo Marchezan, de que novas restrições se farão necessárias. Até o Natal, é certo que nenhuma medida será adotada – há uma convicção, na prefeitura, de que a economia precisa da data para retomar algum fôlego. Mas, para depois do Natal, a hipótese existe.
Se as UTIs continuarem próximas do colapso, Marchezan só deixará de aplicar restrições se decidir, às vésperas do fim do mandato, que o melhor é deixar Melo assumir para resolver. Mas a pressão dos hospitais certamente vai pesar: quanto mais a situação piora, mais os profissionais de saúde se sentem desrespeitados pela inação da prefeitura.
– É um baita constrangimento. Como vamos proibir algo com o prefeito eleito dizendo que faria diferente? Fica uma coisa sem respaldo – avalia um membro do governo.
A boa notícia é que, na manhã desta segunda (21), técnicos da Secretaria Municipal de Saúde apresentaram dados que podem indicar uma mudança de rumo na pandemia. O número de atendimentos ambulatoriais – e também de novos casos confirmados de coronavírus – teve uma leve redução na última semana.
Se a tendência se mantiver, é possível que as internações em UTIs também comecem a recuar: aí, claro, não haveria mais motivos para defender a restrição de atividades. Seria o melhor para todo mundo.