
Depois de uma série de reclamações – teve gente ligando para a Brigada, protestando nas redes, procurando a imprensa –, o governo do Estado suspendeu as gravações com helicópteros em Porto Alegre.
A ideia era produzir um vídeo institucional, simulando uma ação da polícia com viaturas e aeronaves na região central da cidade. Mas, em tempos de coronavírus, qualquer alteração na rotina vira medo: no Bom Fim, por exemplo, faltou luz no momento em que os helicópteros sobrevoavam a Capital, no domingo (15) à noite. Moradores se assustaram.
– Eles voavam muito baixo e lançavam aqueles fachos de luz. Parecia que estavam procurando alguém, todo mundo se apavorou – lembra a comerciante Alexandra Cristina Loss, 39 anos, que mora na Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa.
Os dois helicópteros – um da Brigada Militar e outro da Polícia Civil – emitiam fachos de luz em direção ao solo e, com a rotação das hélices, faziam um barulho considerável. Passava das 23h. Como os policiais eram de verdade, ninguém pensou que se tratasse da gravação de um comercial.
– Assim que as reclamações chegaram, optamos por interromper. Era para causar o menor transtorno possível: deveria ter ocorrido um pouco mais cedo, mas atrasou – afirma Alexandre Elmi, diretor de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do Estado.
As imagens já captadas, segundo Elmi, são suficientes para compor o vídeo – ou seja, não haverá novos sobrevoos. O objetivo do material é divulgar, na TV e nas redes sociais, a queda nos índices de criminalidade e as estratégias do governo gaúcho para a segurança pública.
Não foram só os moradores que se queixaram. O Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul emitiu nota avaliando que, "além do momento completamente inadequado, é inadmissível que os profissionais da segurança pública sejam deslocados para trabalhar fora do seu horário de serviço, durante a noite e em desvio de função para tentar melhorar a imagem do governo".
A Secretaria de Comunicação não respondeu quantos policiais se envolveram na gravação, nem se as acusações do sindicato fazem sentido.
Com Rossana Ruschel