A gota d'água foi quando uma senhora passou mal e não tinha onde sentar.

– Vou dar meu jeito e fazer um banco – decidiu o cabeleireiro Moisés da Rosa Gomes, 55 anos, que trabalha no salão em frente à parada de ônibus.

Ele pediu doação de madeira a uma empresa, comprou duas latinhas de tinta e, após três horas de trabalho, estava pronto o banquinho que tornaria mais leve, na Rua Barão do Amazonas, a jornada de quem aguarda o busão. É um assento estiloso, no meio da quadra entre as ruas La Plata e Valparaíso: Moisés pintou listras de um lado, xadrez do outro, tudo em preto e branco.

MOISÉS DA ROSA GOMES

Cabeleireiro

Alguns acham que é pegadinha, ficam procurando a câmera. Mas o que mais recebo são agradecimentos.

E não é o primeiro banco que ele instala. Há seis anos, quando trabalhava em outro salão na mesma rua, o cabelereiro já havia feito um banquinho para quem esperava o ônibus em outra parada – e o pequeno móvel segue lá até hoje.

– Alguns acham que é pegadinha, ficam procurando a câmera – sorri Moisés. – Mas o que mais recebo são agradecimentos.

Nesta semana, por exemplo, ele chegou ao trabalho e fotografou, orgulhoso, um cartaz colado na parada: "Valeu pelo banco, dr. Tesoura!! Muito obrigado!!!". E, embora nunca uma pichação ou vandalismo tenha atingido os dois banquinhos, Moisés prefere manter os assentos acorrentados:

– Faço para garantir, mas as pessoas respeitam, sabem que é para beneficiar a comunidade.

Só que a corrente do banco novo, por enquanto, é a mesma usada para fechar o salão de beleza. O cabeleireiro, então, guarda o banquinho toda noite, às 20h, e devolve à parada na manhã seguinte. Diz que não se importa.

Procurada pela coluna, a EPTC solicitou o telefone de Moisés para agradecer e "prestar orientações sobre o formato e as normas que regem o mobiliário urbano, com o intuito de que ele continue a colaborar com a cidade". A estatal ainda informou que estuda uma forma de viabilizar a adoção, por empresas, de paradas da Capital.

Enquanto isso, Moisés projeta reformar o banco antigo e instalar um terceiro na Barão do Amazonas.

Com Rossana Ruschel