
Intrigada com um poste de luz que nunca apaga durante o dia, a dona de casa Fátima Pedroni, 57 anos, decidiu alertar a prefeitura.
Na primeira ligação, há quase seis meses, ouviu que era preciso informar a numeração exata da rua – não bastava ela dizer que o poste fica na esquina da Gonçalo de Carvalho com a Benjamin Flores. Ou seja: o poder público é avisado sobre um desperdício de energia, mas, em vez de agradecer, diz que o cidadão fez pouco.
Só que Fátima insistiu: depois de 30, 60, 90 dias topando com a lâmpada acesa todo dia, ligou de novo para o 156 (protocolo 1481121966). Prometeram dar um jeito, não deram, e ela telefonou outra vez na metade de junho (protocolo 1481251938): garantiram urgência, mas a coluna foi conferir na sexta-feira (28) e lá estava o poste aceso.
– Não sei se é má vontade ou negligência. Parece que ninguém se importa – constata Fátima, sem ter recebido retorno algum nesses quase seis meses.

Está aí o maior problema – o poste é secundário. Não há nada mais precioso, pelo menos para mim, do que o meu tempo. Mas, para a burocracia estatal, não só em Porto Alegre, o tempo do brasileiro não vale coisa nenhuma – e essa desconsideração com o tempo do cidadão talvez seja mais ofensiva do que as falhas nos serviços.
Nos serviços, podem faltar recursos – somos pobres, já sabemos –, mas o descaso com o tempo de alguém é só desprezo. A prefeitura, cedo ou tarde, vai arrumar o tal do poste, só que o conserto mais profundo é de mentalidade: escutar a população não é só uma condição para saber o que consertar; escutar é tão importante quanto consertar.
Colaborou Rossana Ruschel