Engraçado que a grama, na beira do Arroio Dilúvio, aparece bem aparada na parte de cima, rente à Avenida Ipiranga, mas vira um matagal no talude – aquele barranco entre o riacho e a calçada.
Não é desleixo da prefeitura: o serviço está suspenso desde maio, só no talude, porque o Ministério Público do Trabalho (MPT) apontou riscos aos trabalhadores. O receio é de que alguém caia no Dilúvio ao cortar a grama, já que o barranco é inclinado e os funcionários não usam equipamentos de segurança.
– Desde que o arroio foi canalizado, há mais de 40 anos, nunca houve registro de que alguém tenha caído – diz o secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário. – É saudável que os órgãos de controle zelem pelos trabalhadores, mas não há um fato que justifique essa proibição.
Para resolver o impasse, a prefeitura e a Cootravipa – que é a terceirizada responsável pelo serviço – vêm realizando testes com equipamentos à margem do arroio. Nos últimos ensaios, o funcionário ficava preso a um cabo de segurança, que, por sua vez, era preso a uma estaca enterrada no chão. Assim, ele podia caminhar sem risco de queda na área mais íngreme.
– Não precisamos esperar que alguém caia para saber que aquela atividade é de risco. O Ministério Público do Trabalho atua de forma preventiva. Até porque, se alguém cair e se machucar, será tarde demais – diz a procuradora do Trabalho Aline Zerwes Bottari Brasil, que conduz o inquérito.
Segundo ela, a demora para o corte de grama retornar ao normal ocorre porque apenas agora, há duas semanas, a prefeitura e a Cootravipa apresentaram a solução para o caso. A Secretaria de Serviços Urbanos, no entanto, diz que desde dezembro de 2017, quando foi notificada pela primeira vez, tentou várias vezes marcar audiências com o MPT, mas só conseguiu em julho.
Há 12 dias, a procuradora ainda pediu esclarecimentos sobre os últimos testes – por exemplo, a comprovação técnica de que o equipamento é capaz, mesmo, de sustentar uma pessoa. Em princípio, é o que falta para voltarem a cortar a grama.