Aquele entendido em plantas que havia pichado 74 nomes de árvores às margens do Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga, nunca foi identificado nem punido. Já Maurílio Duarte, 52 anos, o pintor de letreiros que decidiu transformar os rabiscos em algo mais bonitinho, será autuado pela Guarda Municipal.
Depois de mostrar a iniciativa de Maurílio, a coluna flagrou na terça-feira (20) um agente da Guarda fotografando uma das pinturas. Ao lado dela, no guarda-corpo da ciclovia, o pintor havia escrito seu nome completo e um telefone para contato.
– Infelizmente, não somos onipresentes para flagrar todos os delitos. Mas, uma vez que constatamos o fato e identificamos o autor, não podemos nos omitir – diz o comandante da Guarda Municipal, Roben Martins.
Ele ressalta que a Guarda também “não pode fazer juízo de valor”:
– Seria inconcebível autuar as pichações feias e deixar passar os desenhos que gostamos.
Após um boletim de ocorrência na Polícia Civil, o delegado responsável vai decidir se abre inquérito para apurar o caso – o que poderia resultar em uma ação na Justiça por crime ambiental.
Não se pode dizer que a Guarda Municipal está errada, mas o episódio escancara o despreparo do poder público para acolher contribuições como a de Maurílio.
Para ficar só no caso das pichações da Ipiranga, em agosto de 2018 uma agência de comunicação criou modelos de adesivos para cobrir os rabiscos – a ideia era manter os nomes das árvores e, de quebra, acrescentar uma série de informações sobre cada vegetal identificado pelo pichador.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente chegou a demonstrar interesse na ideia, mas não fez nada para tirá-la do papel. Agora, a EPTC, responsável pelas ciclovias, informa que vai procurar Maurílio para “colher sugestões sobre possíveis intervenções” no guarda-corpo. Tomara que ele ainda queira ajudar.