Os vereadores andam brabos comigo. Não todos, mas boa parte. O principal motivo é a nota que publiquei na minha coluna diária, no dia 1º de maio, sob o título "Feirão de vereadores". Dizia assim:
"Pelo menos 14 vereadores já entraram na base aliada de Marchezan em troca de cargos. Oficialmente, a base conta com apenas 11 membros (do PP, do PSDB, do PTB e do SDD), número insuficiente para aprovar projetos impopulares. Por isso, o governo tem oferecido de cinco a oito cargos na prefeitura – a proposta varia conforme o peso do vereador e de sua bancada – para todos os legisladores que se dizem 'independentes'. Na prática, a base já tem no mínimo 25 integrantes, incluindo gente do PMDB, do PDT, do DEM, do PSB e do PRB".
Foi um fuzuê. Vereadores foram à tribuna me contestar, houve quem me chamasse de canalha, mas a maioria foi mais digna – ficou quieta. Marchezan também se irritou comigo, disse que jamais trocou cargos por apoio na Câmara. Segundo o prefeito, os CCs da prefeitura ligados a vereadores estão lá porque são competentes, estão lá porque o governo não tem preconceito com indicações políticas – desde que sejam indicações qualificadas. Certo.
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Mas é preciso fazer justiça: enquanto os aliados de Marchezan desfrutam de cinco a oito cargos na prefeitura, a administração anterior chegava a oferecer 30 cargos para um único vereador. Trintão! O atual prefeito se recusa a fazer isso – não quer inchar a máquina pública para afagar aliados, o que é louvável, só que a conta sempre chega. Darei um exemplo.
Na terça-feira passada, véspera de votação na Câmara, o governo tinha 23 vereadores dispostos a aprovar um projeto fundamental para os planos de Marchezan: o fim da reposição automática da inflação ao salário dos servidores. Tudo certo, todo mundo feliz. Mas o líder do governo, Clàudio Janta (SD), desesperou-se ao ver os 23 caindo para 21, depois para 19, depois para 17, até chegarem a 15 na hora de votar. Ferrou: não havia vereador suficiente.
– Decidimos cobrar a fatura – disse um membro da base cujo nome, me perdoem, não vou revelar.
Quer dizer: alguns dos vereadores que andavam brabos comigo porque falei dos cargos ficaram brabos com o prefeito porque queriam mais cargos. Que coisa. Mas não foi só pelos cargos, sejamos justos. A principal razão para retirarem o apoio foi a seguinte: Marchezan é difícil (que novidade). Marchezan é tão difícil que, se continuar achando que pode governar sozinho, não vai mais governar. Não vai passar na Câmara um único projetinho, quanto mais esses projetões antipáticos que provocam urticária em qualquer pessoa que viva de votos, como é o caso dos vereadores.
Não quer dar cargo, tudo bem. Mas afagar vereador é inevitável, é parte da função de um prefeito. Há vereadores aguardando por uma agenda com Marchezan há três meses. Houve reuniões em que o prefeito nem sequer apareceu. Marchezan veta projetos dos aliados, não prestigia a base, não ouve as ideias dos vereadores e, para completar, joga a população contra a Câmara.
– Quem diz "sim" para tudo é um mentiroso, um demagógico, é o tipo de pessoa pública que levou o Brasil à falência (...). Essa falta de coragem de alguns vereadores nos impossibilitou de pegar esses R$ 96 milhões (valor que o governo gastará em 2017 com a reposição da inflação aos salários) e não comprometer com aquilo que, no nosso entender, não é a prioridade da nossa cidade – disse o prefeito em um vídeo no Facebook.
Eu até acharia legal, mas duvido que, após ouvir esse discurso de Marchezan, a população vá até a Câmara exigir:
– Preste bem atenção, meu vereador: ou o senhor aprova esse projeto do prefeito, ou nunca mais terá meu voto!
Não vai rolar. Nos corredores da Câmara, o papo é outro: ou Marchezan sossega o facho, ou a debandada será mortal. Eu aqui quero ressaltar que sim, Marchezan é um homem decente, tem boas intenções. Quem dera só isso bastasse para ser prefeito.