Esse projeto de lei do vereador Tarciso Flecha Negra (PSD), que pretende obrigar todos os restaurantes e bares de Porto Alegre a "oferecer alimentação adequada para pessoas com diabetes", é mais um belo exemplo da política do parece bom.
Já escrevi sobre isso: trata-se de um fenômeno disseminado por câmaras e assembleias de todo o país. São sempre propostas simples, de fácil compreensão para qualquer pessoa, embaladas em um discurso meio altruísta que supostamente defende os desamparados.
O projeto de Tarciso, com votação prevista para a semana que vem no plenário da Câmara, exige que os estabelecimentos "incluam, em seus cardápios de refeições, sobremesas e bebidas, dieta alimentar planejada e elaborada por nutricionistas" para atender os diabéticos.
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A armadilha da política do parece bom é que ela mais reprime do que ajuda. Hoje, nenhum restaurante é proibido de fazer o que o projeto tenta obrigar. Mas, se o projeto for aprovado, qualquer xis de esquina que ofereça um cardápio mais simples – porque esse é o cardápio possível dentro da sua realidade financeira – ficará proibido de funcionar.
Aliás, aprove-se uma lei como essa e logo virão outras exigindo cardápios para cardíacos, celíacos, alérgicos, obesos, gestantes, idosos etc. E assim a cidade verá uma série de estabelecimentos fecharem as portas por impossibilidade de se adequar a uma legislação arbitrária.
Mas, voltando aos diabéticos, tenho dúvidas sobre como seria um cardápio específico para eles. A endocrinologista Patrícia Santafé, do Centro Clínico da PUCRS, diz que cada paciente requer uma dieta distinta, porque um diabético pode ser hipertenso, ou nefropata, ou dislipidêmico, ou puro, enfim, só a nutricionista e o médico dele podem recomendar a alimentação ideal.
– Mas as pessoas com diabetes, em geral, não têm uma alimentação fora do padrão. Pelo contrário, é só uma dieta mais saudável, com restrições que variam conforme o paciente, e que pode ser consumida em boa parte dos restaurantes – afirma a doutora Patrícia.
O vereador Tarciso, vale esclarecer, não é mal-intencionado. É, como nós, uma vítima da política do parece bom.