![Aaron Chown / AFP Aaron Chown / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/34384710.jpg?w=700)
Se aquela conhecida chalaça do Chacrinha tinha um fundo de verdade, estamos todos trumbicados. Na era da comunicação, com todas as facilidades tecnológicas disponíveis, as pessoas se comunicam cada vez menos. Começa que ninguém mais liga (no sentido de fazer uma ligação telefônica) para ninguém.
Criou-se, mesmo entre parentes e melhores amigos, uma barreira incompreensível de pudor. Para não incomodar, para não correr o risco de ligar na hora errada e, principalmente, pelo temor de não ser atendido, o proponente do contato passa primeiro uma mensagem de texto:
— Posso te ligar?
Se o corretor ortográfico não transformar o bem-intencionado convite em algo como “posso te lograr?”, talvez a conversa ocorra. O mais provável, porém, é que o interlocutor responda com uma mensagem de voz, recurso menos suscetível a interrupções — e também menos caloroso.
Apesar dos mal-entendidos, a dedografia predomina. (É licença poética, senhor corretor, não me venha com demografia ou democracia). A conversa com os dedos mata o diálogo telefônico assim como o próprio telefone praticamente extinguiu a expectativa e a emoção da troca de cartas entre missivistas.
Mas, por incrível que pareça, a magia ainda funciona. Comovida com a recente morte do príncipe Philip, uma garotinha de cinco anos, que recém estava sendo alfabetizada no interior da Inglaterra, tomou a iniciativa de escrever uma cartinha para a rainha Elizabeth. Garatujou lá na língua dela, mas aqui vai em tradução espontânea: “Querida Sua Majestade. Meu nome é Erin. Gosto de seus chapéus e casacos. Você tem um gato ou cachorro real? Eu tenho um gato chamado Simba. Sei que está triste, por isso penso que vai gostar deste desenho”.
E desenhou a rainha com a faixa real e a coroa.
Os pais acharam graça e postaram com o endereço do Palácio de Buckingham. Três dias depois, a família de Erin recebeu uma correspondência com o agradecimento pessoal da monarca. Não é uma história bonita ao velho estilo?
Perdeu, corretor ortográfico!