Em meio à pandemia do coronavírus, os gafanhotos que ameaçam o Sul do Brasil ressuscitam no imaginário popular o episódio bíblico das 10 pragas do Egito, contado no livro do Êxodo. O tema, naturalmente, se presta aos mais diversos tipos de interpretações, que vão de memes e charges a advertências apocalípticas. Tudo bem, cada um com a sua crença. A minha é a ciência, ainda que os chamados especialistas, às vezes, apresentem teses tão mirabolantes quanto às mais obtusas crendices.
Vejamos, por exemplo, algumas explicações científicas para as pragas bíblicas. Em primeiro lugar, arqueólogos concluíram que os fenômenos sequenciais teriam ocorrido na antiga cidade de Pi-Ramsés, localizada no Delta do rio Nilo, capital do Egito no reinado de Ramsés II.
Tudo começa com a primeira praga: a água transformada em sangue. Dizem os estudiosos que uma mudança climática impactante, com aquecimento de temperatura e falta de chuvas, deixou o rio Nilo barrento e propiciou a proliferação de micro-organismos, entre os quais a alga Oscillatoria rubescens que, ao morrer, desprende uma tintura vermelha na água.
Essa contaminação teria gerado mais três pragas: sapos, piolhos e moscas. A água tóxica alterou o desenvolvimento dos girinos e fez com que os sapos pulassem para fora em busca de sobrevida. Com a morte dos sapos, moscas e piolhos proliferaram por falta de predadores naturais. Como os insetos são transmissores de doenças, vieram as epidemias e as feridas. No mesmo período, um vulcão das proximidades resolveu se manifestar. A erupção do vulcão Thera (a 700 quilômetros do Egito) é considerada uma das maiores da história, lançou toneladas de cinzas na atmosfera, ocultando o Sol e gerando anomalias climáticas com tempestades de granizo. Os rebanhos morreram e o clima se tornou propício aos gafanhotos. Mais cinco pragas explicadas: úlceras, fome, granizo, gafanhotos e trevas.
A última e mais terrível teria sido a morte dos primogênitos, incluindo-se aí o filho do faraó. Entre as hipóteses, duas são as mais divulgadas. Uma: as crianças teriam morrido intoxicadas por um fungo que infectou as reservas e grãos e, como era costume na época, os filhos mais velhos tinham prioridade sobre os demais na hora de comer. A outra: a erupção do vulcão teria provocado abalos sísmicos e liberado um lençol de gases tóxicos que teria atingido principalmente os andares das casas mais próximos ao nível do solo, onde dormiam os primogênitos.
Como se vê, a ciência também tem os seus delírios.