A figura de Jean Pyerre a fazer raridades no meio-campo pode ser considerada o melhor resumo do estágio que o time do Grêmio alcançou neste início de dezembro onde tanta coisa deve acontecer. O camisa 10 faz tudo o que faz porque joga se divertindo. Não há sofrimento no conjunto da obra do armador gremista. Segundo as próprias palavras, Jean Pyerre ainda precisa melhorar em quesitos defensivos.
Combinemos, é a parte menos divertida de jogar futebol. A labuta sem a bola garante o prazer que os jogadores do Grêmio sentem quando a recuperam. Jean Pyerre é quem mais se diverte, mas também Pepê, Matheus Henrique, Darlan e Diego Souza desfrutam do entrosamento que proporciona ao Grêmio fazer jogadas que parecem ensaiadas quando, na verdade, nascem do encaixe das melhores características de cada jogador do meio para a frente.
Victor Ferraz e Diogo Barbosa complementam os já citados jogadores que atuam mais adiantados. O ciso é garantido pela atividade operária e competente de Kannemann. Sim, porque até Geromel, em plena ação de defesa, se diverte tomando a bola dos atacantes adversários sem cometer falta.
Renato Portaluppi era assim jogando futebol. Jogava e se divertia. As frases antes dos jogos, hoje, seriam em boa parte politicamente incorretas, como era a comemoração onde punha o dedo indicador em frente à boca mandando a torcida rival ficar quieta.
Um bom exemplo do grau de divertimento, que em nada compromete a competitividade, aconteceu no gol de Rodrigues contra o Guarani. A câmera flagra Renato, logo após a conclusão do zagueiro, abrindo um sorriso largo como se dissesse "veja só, o Rodrigues de centroavante." Se o Grêmio conseguir manter esta levada que mistura alegria e seriedade contra o Santos, estará nas semifinais da Libertadores.
O tamanho do favoritismo gremista está diretamente relacionado à presença em plena forma de Jean Pyerre nos dois ou em pelo menos um dos jogos. Ele está realizando no setor central do campo coisas que não se veem nem na Seleção Brasileira, onde, neste momento, a armação é feita no corredor por Everton Ribeiro. Daí a impressionante relevância de JP10 para o sucesso ou não do Grêmio de Renato.
Olho no rival
Não se enganem, leitor e leitora, que o colunista subestima o Santos. De jeito nenhum. Marinho, que o Grêmio gostaria de ver jogando de azul o que hoje joga de branco, já disse que o presidente do Santos, para os jogadores, é Cuca. O treinador arregimentou o elenco em torno de sua figura, deu liga.
A base é utilizada com sucesso. Jogadores como o próprio Marinho e Soteldo assumem um surpreendente protagonismo que fez o venezuelano abrir mão de uma proposta do Exterior, onde o mês teria 30 dias, para ficar no Santos, onde esta conta não fecha. Alisson e Pituca de volantes, Pará de líder, Veríssimo de grande zagueiro e Madson de coringa, eis o Santos das quartas de final da Libertadores. Pareceu bater no teto nos quesitos técnico e físico contra a LDU, mas todo ânimo se renova a partir do desafio que se agiganta para os santistas. Se o Palmeiras, o outro paulista do torneio, vai de franco favorito contra o Libertad paraguaio, o Santos entra de desafiante contra o Grêmio.