O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Na esteira de boas notícias na macroeconomia nos últimos dias, a semana começa com expectativa de se obter a cereja do bolo. Após queda na prévia de inflação de julho, elevação do rating do Brasil, baixa no nível de desemprego e bons números no câmbio e bolsa, o primeiro corte na taxa de juro básico do país é aguardado para os próximos dias. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central começa nesta terça-feira e termina com a decisão do colegiado na quarta-feira. Caso o talho no juro se confirme, será o primeiro após um ano com Selic estacionada em 13,75%.
O começo da inversão no indicador é consenso entre mercado e analistas. Agora, paira a dúvida sobre o tamanho do corte. Até o início da semana passada, boa parte das estimativas iam na linha de redução de 0,25 ponto percentual. Com os acontecimentos dos últimos dias, cresceu o coro no sentido de corte de 0,50 ponto percentual. Fernando Ferrari Filho, professor titular aposentado de Economia na UFRGS, segue essa linha:
– Tem espaço para reduzir meio ponto percentual. Você tem um quadro econômico favorável, principalmente levando em conta o controle inflacionário. E, em nível global, as taxas de juros pararam de subir e têm tendência de seguir estagnadas ou de queda.
No entanto, o professor afirma que a retração no juro não é o fator determinante para o aquecimento sustentado da atividade econômica, que passa por crescimento de renda, solução para o alto endividamento das famílias e redução do custo país.
Divulgado na sexta, o recuo na taxa de desemprego, que ficou em 8% no trimestre encerrado em junho, menor patamar para o período desde 2014, engrossa o caldo por essa projeção de corte iniciando por 0,50 ponto na avaliação do economista André Perfeito. O fato de a queda na desocupação vir acompanhada da estabilidade no rendimento médio real afasta a ameaça de um repique na inflação pelo lado da demanda em um futuro próximo. Isso deixa a autoridade monetária mais confortável para uma redução menos conservadora na avaliação do economista:
— É mais um dado no sentido mais baixista para os juros na minha opinião.
Após uma sequência de alta que iniciou em 2021, a Selic atingiu os 13,75% em agosto do ano passado. Desde então, atravessou sete reuniões do Copom sem alterações, inclusive, com ameaças da autoridade monetária após pressões em bloco do núcleo duro do atual governo. Em meio a esse embate, a inflação perdeu tração em um cenário de consumo fraco, atividade econômica desestimulada e inadimplência recorde, abrindo espaço para a primeira queda no juro.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo