Em uma piada de mau gosto que ouvi semana passada, uma criança perguntava para outra sobre qual seria diferença entre sexo oral e anal. A outra responde que ainda tentava entender o que é imbrochável.
A piada cruza a fala do presidente no 7 de Setembro, com a fake news sobre crianças abusadas da ilha de Marajó. A notícia falsa é por conta da ex-ministra Damares que contou, como se fato fosse, uma lenda urbana oriunda da internet, em um culto onde havia crianças. A fantasia dela trazia requintes de crueldade, como arrancar os dentes das crianças para não atrapalhar o sexo oral e comida pastosa que facilitaria o sexo anal.
Nossas crianças deveriam escutar isto? A psicanálise diz que não. Elas não têm como entender a sexualidade adulta, portanto, quando expostas a imagens e falas com conteúdo sexual, elas ficam no mínimo confusas. Pacientes trazem lembranças de como ficaram negativamente marcados por informações precoces vindas da pornografia. A partir delas, criam fantasias sexuais mirabolantes para dar conta do que não sabem.
O que machuca a criança não é somente a exposição, é também a solidão posterior, quando tentam resolver sozinhas o enigma da sexualidade. Por que ela não poderia saber sobre aquilo que mesmeriza os mais velhos?
O que podemos falar às crianças? Vejamos, o alvo do pedófilo é menos a criança do que a sua inocência. Ele busca a assimetria de poder, ser o mestre da relação, onde a vítima não sabe o que está acontecendo. Nem teria como entender, a sexualidade infantil — sim, ela existe — é completamente distinta da adulta, é como se falassem duas línguas diferentes. Ao colonizar o corpo infantil, o pedófilo cria uma cumplicidade opressiva, alimentada pelo medo paralisante da vítima.
A educação sexual para crianças pequenas — que é tão combatida — passa por insistir que ninguém tem direito de tocá-las de forma que as deixe incômodas. Tampouco devem aceitar pedidos de adultos para guardar segredo. Nestes casos ela deve falar sobre isso com outros adultos de sua confiança. A ênfase não é conteúdo sobre o que os adultos fazem na cama ou sobre o que ela deveria ser ou se comportar agora e no futuro. A educação sexual tenta deixá-las menos vulneráveis a predadores.
É estranho que quem combate a educação sexual infantil, supostamente para não expor as crianças, fale grosserias que vão na direção oposta.