O Brasil se ressente muito de pesquisas na área da Segurança Pública. Outro dia, em meio ao anúncio de investimentos, destacada autoridade afirmou que o governo irá comprar viaturas para a diminuição do tempo de resposta da polícia. Em Pindorama, investimentos em segurança se concentram na compra de viaturas e armamentos e na contratação de policiais. No caso das viaturas, a aquisição origina cerimônias de entrega e discursos. Fica-se com a impressão de que "algo está sendo feito". A pergunta é: patrulhamento aleatório com viaturas funciona? Em um estudo de 1990, com mais de 6 mil horas de observações em cruzamentos com altas taxas de criminalidade ("The General Deterrent Effects of Increased Police Patrol in Hot Spots of Crime"), Sherman e Weisburd mostraram que a frequência dos carros de patrulha passando pelos locais era de um veículo a cada 23 horas. Pesquisas em todo o mundo apontam que a circulação aleatória de viaturas policiais não produz resultados quanto à redução do crime ou do medo. E a rapidez da resposta? Devemos investir em carros velozes? Desde a década de 70, com o estudo da Polícia de Kansas City (The Kansas City Preventive Patrol Experiment), sabe-se que as chamadas à polícia costumam ocorrer muito depois das ocorrências e que as possibilidades de prisão em flagrante caem 10 pontos percentuais a cada minuto depois do fato. Por isso, Bayley e Skolnick, em seu clássico Nova Polícia: inovações nas polícias de seis cidades norte-americanas, afirmam que, exceção feita aos crimes em andamento, não faz sentido se exigir que a Polícia chegue ao local mais rapidamente. O detalhe é que chamadas sobre crimes em andamento são raríssimas. O que pode fazer muita diferença é a fixação das viaturas em áreas definidas, sem conexão com o 190, em um projeto consistente de apoio ao policiamento comunitário, acompanhada pela mudança na qualidade do atendimento. Sobre isso, entretanto, nenhuma palavra. Não surpreende que, muitas vezes, a cena do crime seja desfeita e que testemunhas importantes se percam. Resultados do tipo seguirão sendo colhidos mais rapidamente com mais carros.
Os novos investimentos em segurança irão permitir o reforço do Instituto Geral de Perícias (IGP), o que é um acerto. Mais peritos e mais tecnologia para as investigações significa menos impunidade. O governo poderia aproveitar o embalo e investir na alimentação do banco nacional de dados de DNA, já que o RS tem um dos piores desempenhos do Brasil no setor. Anuncia-se, também, a construção de "pavilhões" no Central. Seria oportuno apresentar o projeto aos demais Poderes, às entidades e às universidades para receber contribuições sobre a execução penal pretendida e sobre as plantas arquitetônicas correspondentes. Se não por outro motivo, para que recursos públicos não sejam, mais uma vez, direcionados para a construção das tradicionais arapucas de concreto que fazem a alegria das empreiteiras e, alguns meses depois, das facções criminais.
A política em curso na segurança do RS segue, incrivelmente, tendo como indicador principal o número de prisões. A meta é prender mais, o que é um não conceito. Já há algumas décadas, sabe-se que há prisões que impactam positivamente a segurança e há prisões disfuncionais, cujo único efeito é o de ampliar o crime e a violência. Assim, por exemplo, quando matadores são presos, a tendência é de queda nas taxas de homicídio; mas quando a polícia prende jovens na periferia com pequenas quantidades de drogas, nada se altera quanto ao tráfico, porque essa mão de obra é reposta instantaneamente. Essa prisão, entretanto, organizará os sujeitos nas facções prisionais por conta da forma como as penas são executadas, o que significa contratar violência futura. No RS, o primeiro tipo de prisão segue sendo improvável, mas o segundo é mesmo uma de nossas especialidades. Agora, teremos mais dinheiro para insistir neste caminho. Pangloss, o personagem de Cândido, de Voltaire, ficaria muito satisfeito. O que falta para "cair a ficha"? O terremoto de Lisboa?
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