Nessa semana, a coluna se dedica a contar casos curiosos, bizarros ou até pitorescos no mundo do futebol. É o esporte avançando em limites sociopolíticos e geográficos dos países. O último episódio da série conta a história das seleções de Hong Kong, Macau e Taiwan. Regiões que lutam pela independência total junto à China, mas que, no futebol, gozam de tal autonomia.
Você sabia que a lista da Fifa tem mais filiados do que a Organização das Nações Unidas (ONU)? Por mais curioso que isso possa parecer, são 221 países ligados à entidade do futebol contra 193 da organização internacional. São muitos casos que explicam tal fenômeno, e aqui serão expostas as razões que dão liberdade a Hong Kong, Macau e Taiwan neste cenário.
Estas três regiões surgem de maneira independente conforme a Fifa. Enquanto Hong Kong e Macau são regiões administrativas especiais, Taiwan é uma espécie de província renegada. Aliás, as relações políticas honconguesas e taiwanesas com a China estão longe de ser das melhores. Por isso, é interessante separar caso a caso para entender a situação.
O caso de Hong Kong
A interferência chinesa sobre Hong Kong ainda é grande. A região administrativa especial, antiga colônia britânica, tem sete milhões de habitantes e possui uma grande economia de serviço capitalista. Apesar de ainda administrada pela China, sua força a faz desprender-se em muitos segmentos, como o esporte. A seleção honconguesa de futebol filiou-se à Fifa em 1954 e aparece como 143ª colocada no ranking mundial.
Nas Eliminatórias da Ásia para a Copa do Mundo, o hino chinês é reproduzido antes dos jogos de Hong Kong, ato o qual invariavelmente é vaiado pelos torcedores. Isso inclusive já rendeu multa à federação. Neste sentido, a postura da Fifa é de neutralidade, evitando entrar na polêmica. Afinal, é interessante pra ela ter ambos como membros.
O melhor resultado da seleção na história foi um terceiro lugar na Copa da Ásia de 1956, sediada justamente em Hong Kong. Em 2005, a CBF organizou um amistoso junto à federação local. A Seleção Brasileira aplicou uma goleada de 7 a 1, com gols de Lúcio, Roberto Carlos, Ricardo Oliveira (duas vezes), Ronaldinho, Robinho e Alex.
O caso de Macau
A antiga colônia portuguesa sofre forte influência da China desde 1999, quando passou a ser administrada pelo país. A economia gira em torno do turismo e do jogo. Macau possui uma grande quantidade de cassinos, atraindo apostadores de todo o planeta. O fenômeno faz também a prostituição ter uma atividade intensa.
Talvez esteja aí o grande problema de Macau com relação ao futebol. Tem uma liga nacional, ainda não profissional, dividida em três divisões, no entanto, apesar de bem estruturado, o campeonato sofre com faltas de campos para a disputa dos jogos. É que a associação de futebol da região conta com poucos recursos para investimento. O dinheiro vai para as roletas.
Mesmo assim, Macau participa das Eliminatórias para a Copa do Mundo desde 1982. Filiada à Fifa a partir de 1978, jamais conseguiu uma vaga para o torneio nem alcançar a fase final da Copa da Ásia. A seleção, uma das mais fracas do mundo, é a 182ª colocada no ranking.
O caso de Taiwan
Para a Fifa, Taiwan é chamado de Taipé Chinês. Tal terminologia visa evitar conflitos políticos com a China. Ou seja, a ilha no sudeste asiático está livre para disputa de eventos esportivos com uma identidade própria, mas desde que continue sendo considerada território chinês.
Considerada uma província rebelde pelo governo da China desde a revolução comunista em 1950, Taiwan afiliou-se à Fifa em 1954. Os desentendimentos nunca cessaram, fazendo sua associação inclusive ser expulsa da confederação asiática. Passou a jogar pela Oceania, de onde também foi excluída posteriormente por questões políticas. O problema deu uma trégua em 1981, quando a Fifa interveio, inclusive determinando a designação Taipé Chinês para acalmar os ânimos e evitar uma eventual exclusão de um de seus membros.
As instabilidades políticas refletem no futebol. O nível ficou estagnado por muitas décadas em relação aos outros países. Basquete e beisebol passaram a ter mais popularidade. No 138º lugar do ranking da Fifa, a seleção de Taiwan agora engatinha para se desenvolver e provar, por meio do fenômeno social e cultural do futebol, que é uma nação que tem condições de existir por capacidade própria.