Não falo apenas no pão e circo do velho Nero, que, diante da insatisfação dos explorados romanos, mandou que lhes dessem mais pão e circo. Essa verdade abrange séculos, quem sabe milênios. Gladiadores se mutilando, inocentes devorados vivos por feras, sangue e entranhas, miséria grassando lá fora, tiranos loucos, e a gente aplaudindo enquanto comia pão seco e torcia, berrava, aplaudia. Nas nossas vidas pessoais, pode acontecer algo parecido, sem feras sanguinárias nem tiranos loucos. Está tudo confuso, preocupante, assustador, então vamos às compras, uma camiseta de R$ 10 ou uma bolsa de vários milhares, uma ida ao shopping só pra olhar ou uma fugidinha pra Miami ou Nova York. Pode ser uma amante, um namoradinho, uma balada, um bom livro, um bom uísque, um bom papo com amigas ou amigos, um passeio de carro vendo o rio e as nuvens, ou simplesmente uma tarde no quarto chorando.
crônica
Pão & circo
Também pessoas têm seus dias de pão e circo pra não desanimar, não enlouquecer, não fugir correndo, não se matar
Lya Luft
Enviar email