Não sou religioso. Devo ter deixado minha fé no bolso da fatiota azul, de calças curtas, com que fiz minha primeira comunhão. E a única coisa de que me lembro do evento, além da fatiota (e da gravata prateada!) não é a emoção de receber a hóstia no rito eucarístico, são os doces que tinha em casa, depois. Acho que foi ali que fiz a minha opção preferencial pela perdição. Invejo quem tem fé, mas não posso deixar de pensar que a minha religião particular, uma espécie de panteísmo urbano (devoção por pastéis e boas livrarias e a crença de que há um deus, sim: o deus do oboé, que além de ser um instrumento divino é o que afina todos os outros), é a única sensata, em meio à crise mundial do monoteísmo.
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Leia a coluna publicada na superedição de fim de semana de ZH
Luis Fernando Verissimo