Por uma infelicidade, felizmente passageira, passamos três dias no hospital na semana passada. Meu filho, com seus escassos 11 anos, passou um perrengue que nos arrastou a todos para o turbilhão que é a vida em tempo suspenso, característico da condição de doente. Conto isso agora com a leveza de olhar para os fatos já pelo espelho retrovisor: depois de três dias de internação e uns vinte de sintomas incaracterísticos, finalmente foi possível entender o que acontecia, circunscrevendo o problema a níveis manejáveis. Ótimos enfermeiros, funcionários e médicos amenizaram a dureza da coisa toda. Mas houve um episódio inesperado no meio disso.
Era o terceiro dia de internação; aguardávamos, como tantos internados, resultados de uns exames, o coração na mão. Estava com nosso filho a mãe, eu no trabalho bem longe dali. Toca o telefone do quarto (que hoje raramente se usa, tantos celulares circulam na vida de todo mundo); ela atende. Começa a falar um doutor Bruno qualquer-coisa, dizendo-se do laboratório do hospital, e pergunta quem havia atendido. Minha mulher disse seu nome e sua condição, mãe do Benjamim.
O tal doutor abriu a porta do inferno: ele queria justamente dizer que havia uma novidade ruim em exames do Benjamim - haviam detectado a presença de uma bactéria terrível, pouco conhecida, que requeria ser tratada imediatamente, porque em poucos dias podia ser fatal. O horror, o oco sem beira.
E havia um problema suplementar: o convênio - qual era mesmo o convênio?, ele perguntou, e a Julia disse o nome - demorava quatro dias para liberar o exame novo a ser feito. (Nisso ela me mandou pelo celular uma mensagem pedindo que eu fosse imediatamente para lá.) Mas havia a alternativa de pagar uma certa quantia (3.700 reais), a serem depositados na conta tal, banco tal, CPF tal. Ao ouvir "CPF", a Julia ficou em dúvida: se era um exame de laboratório, como depositar dinheiro numa conta pessoal? Mas anotou tudo. E desligou o telefone, ainda tremendo.
Uma providencial consulta ao posto de enfermagem esclareceu: era um golpe em curso. Uma picaretagem, explorando o pavor de uma mãe. O hospital, disseram, não se comunicava por telefone com os quartos, e nunca para tratar de novos procedimentos.
Sim, gente má, gente horrível, neste mundo confuso.