D'Alessandro é ímpar. Todo mundo sabe. Os gremistas sabem. Mas foi em Caxias que entendi a alma do argentino. Era um final de tarde maravilhoso para mim. Vitória no Gre-Nal final do Gauchão de 2014. Permita uma correção: vitória não. Goleada de 4 a 1. Beira-Rio em obras. Centenário com casa cheia e eu como mais um repórter no campo. Se faz necessário deixar explícito que trabalho em um programa na Rádio Atlântida desde 2006. Se chama Bola nas Costas por uma única razão: futebol é sacanagem. Para gente é mais importante a flauta do que uma amizade. Por isso estava eu lá atrás da goleira contando o que acontecia no céspede.
Na Serra, a felicidade foi vermelha no estádio do Caxias. Tricolores já se banhavam envergonhados no vestiário e, por aquelas sortes do destino, fui o primeiro a chegar no destaque da partida: D'Alessandro. O jogador já havia ido ao programa. Já havia levado até os filhos ao nosso estúdio. Conhecia o nosso estilo, nosso jeito de perguntar meio torto, com sorriso no rosto, uma possível maldade infantil no ar. Mas o clima era de festa para o grupo de jogadores e para mim, um colorado com microfone na mão (faço parte da IV: Imprensa Vermelha. O outro I, de Isenta, nunca existiu porque desde o 1º dia de jornalismo sabem que torci para Heider, Amarildo e Balalo).
Tergiversei. Volto a D'Alessandro. O 10, naquele fim de tarde, não vestia rubro. Vestia branco e, ao me ver, mostrou os dentes com um sorriso, mas os olhos eram desconfiados. Senti que ele queria falar e mal perguntei, porque tem vezes que é só levar o microfone para a boca de quem mais interessa. A frase dita pelo capitão colorado explica o porquê se entra para a história de um clube. Porque no Rio Grande do Sul ou você entende isso ou você é mais um. D'Alessandro tem a trinca da América em taças. Diversos Gauchões. Declarações coloradas maravilhosas. Esteve em derrotas para criar casca. Tudo isso o ajudou a entrar para a história do clube. O ajuda ainda, pois quando D'Ale está em campo é a história ainda movediça. Pois que ele olhou nos meus olhos, uma particularidade dele em entrevistas, e disse a sentença que deveria ser a primeira pergunta do RH do Inter. D'Alessandro abriu a boca e naquela tom de voz fino e com sotaque também ímpar bradou:
— Não podemos perder Gre-Nal.
D'Alessandro sabe onde se meteu. E por isso é idolatrado. O que, no fim das contas, no juízo final de um clube de futebol, é o que importa. Só o que importa, ainda mais na semana do Gre-Nal histórico e inédito pela Libertadores.