Uma das maiores lições que opinadores de futebol aprendem de forma muito ágil — e cruel — na carreira é de que criticar atacante bom de bola causa danos. Criticar bons jogadores é para "cuiudo", como se diz na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Porque um drible, uma assistência ou um gol é um "cala a boca, opinador FDP!" ligeirinho. É terrível, porque a torcida cai em cima de você, que vira um gnu. A torcida se transforma em leopardos sedentos. E você é esmigalhado, dividido e só resta sua carcaça.
Dito isso, conto como foi meu fevereiro, primeira quinzena dele em 2020. Peguei no pé de Guerrero. Não por maldade, claro. Jogadores são criticáveis. E o peruano não estava bem. Abri o bico no Sala de Redação, no Bola nas Costas e nas redes sociais. Em bom português, falei que o ano não começara bem para o melhor atacante do grupo colorado.
Torcedores me apoiaram. E também xingaram minha mãe. Guerrero estava tentando. E não estava conseguindo. Veio o Gre-Nal. Porque todos nós sabemos que são os clássicos que marcam. E mais uma vez Guerrero passou em branco. Um tuíte meu se espalhou. "Ganhou o Gre-Nal quem jogou com um centroavante". Forte? Naquele momento, não. O gol era de cabeça do centroavante rival Diego Souza. Guerrero apareceu pouco, quase fez nos 90 e poucos. Para não falar que sua figura não foi notada, cada vez que o árbitro aparecia na tela da TV, estava lá o centroavante reclamando de algo.
Pós-jogo, pedi mais bola dele. Menos reclamação. Era maltrato? Não. Era carinho. Porque Guerrero é o homem que pode me fazer feliz. A régua para criticá-lo é outra. Ele não leu. Não ouviu. Porque são poucos os atletas que dão bola para a mídia esportiva.
O que aconteceu? Nos próximos jogos, ele desandou a marcar. Todo prélio tinha gol do 9. Torcedores vieram para cima, salientavam que minha mãe tinha outra profissão além de dona do lar. Algo com prazer para os clientes. Sangue nos olhos e nos teclados dos celulares deles! Um horror.
Faz parte. Guerrero não estava bem mesmo. Os números mostravam. Mas é mais uma em milhares de vezes que criticar atacante matador esculhamba com carreiras jornalísticas. E, quinta, na Arena, já ajoelhado estou a pedir que minha amada mãe seja novamente vilipendiada. Que Guerrero finalmente desencante em Gre-Nais. Nem estou aí para mim. Já falei com Dona Marlene, e estamos em prontidão para ler desaforos.
Para nós, só o que interessa é gol do Guerrero. Azar nosso. A reputação da minha mãe é muito menos importante do que o coloradismo dela e do filho.
Guerrero? Provoque a horda bélica virtual! Faça-a nos atacar. Porque isso só acontecerá se você for feliz no primeiro clássico da história da Libertadores.