Esta é a última coluna do ano e a primeira de 2018. Por isso, vamos para uma história que vai de encontro com aquela metáfora que o Rio Grande do Sul é um balde de caranguejos tentando sair dali e os outros puxando. Nestas plagas, às vezes, o reconhecimento só vem para quem rema para o outro lado do Mampituba. Não aqui. Esta coluna fica feliz com o louro dos vizinhos.
Dito isso, possivelmente você ganhou ou deu de presente no Natal o livro Sapiens, de Yuval Noah Harari. Ou pelo menos viu alguém desembrulhando esse pacote. E você só tem essa publicação em mãos, essas páginas traduzidas para o português porque uma editora gaúcha o descobriu. A história dessa descoberta é boa.
O mercado editorial é tipo o de futebol. Pelo menos na parte de empresários. No Brasil, uma das maiores agências no ramo é a Riff. Pois bem, a Laura Riff, em 2014, enviou uma cópia em inglês de From Animals into Gods (não tinha o Sapiens no nome ainda) para várias editoras brasileiras. Imagino que algumas a jogaram na pilha de "daqui a pouco damos uma olhada". A L&PM, que de boba só tem o jeito de andar, a leu. A equipe a devorou e bateu a paixão. Mas será que tudo que esse israelense escreveu é verdade? Enviaram o livro para especialistas e antropólogos, que se apaixonaram. Pronto. Já era.
Em Frankfurt, na Alemanha, ainda em 2014, o papo na maior feira de livros do planeta era que um historiador e investigador de Israel havia lançado uma publicação que contava, de forma mastigada e competente, a história da humanidade no Alegrete e em tudo que o cerca, mais conhecido como Planeta Terra. Ivan Pinheiro Machado, um dos sócios fundadores da L&PM, percebeu e fechou o negócio: um pouco mais de US$ 10 mil de adiantamento de direitos autorais. Uma barbada! Tipo pagar R$ 1 milhão pelo Modric do Real Madrid. Para se ter uma ideia, o próximo livro do mesmo autor, que até agora só tem o nome da publicação, já foi comprado por outra editora brasileira por cerca de US$ 300 mil!
A empresa nem leu e comprou!
Assim, no calorento 15 de fevereiro de 2015, Sapiens, Uma Breve História da Humanidade chegava em 3 mil peças nas prateleiras brasileiras. Mesmo dia que chegava nas americanas (país, não as lojas). Ivan comenta:
– Sapiens ilustra o fascínio dessa profissão. Nunca se sabe o que vai acontecer.
Mas o que rolou? Uma explosão, daquelas ímpares, que "vem de 20 em 20 anos".
As primeiras 3 mil cópias se foram e 2015 acaba com 30 mil vendidas. De diferente sobre o livro naquele ano? Só uma citação de Jorge Pontual em um dos seus programas na Globo News, em 23 de abril, no Dia do Livro. Entra 2016, o ano da crise. Doze meses depois, em dezembro, a L&PM comemora mais 70 mil vendas. O livro já era um fenômeno. Bill Gates disse que estava lendo, Barack Obama falava que era um dos livros que iria levar para as férias de inverno do hemisfério norte. Mas Sapiens ainda teria 2017 para dançar.
E sempre pode haver mais um impulso no mercado editorial. Uma entrevista, uma citação, são aquelas sortes que tantos editores rezam para ter e sabem que existem. 2017 é o terceiro ano do livro nas prateleiras do Brasil. Harari, o autor, virou celebridade gravando TED, dando palestras milionárias, sendo traduzido em várias línguas, dinheiro, sucesso etc. e aceita receber Pedro Bial em Tel-Aviv para entrevistá-lo. Pronto! Outro bum. Após a conversa dos dois, mais 40 mil cópias são retiradas das prateleiras nos 30 dias após o papo televisivo. E tinha mais: Madonna mostra no Instagram que em uma pilha de livros que quer ler, Sapiens está lá. Mark Zuckerberg, criador do Facebook, o leu durante o ano, tecendo elogios e ajudando nas vendas.
A L&PM tem os seus best-sellers. Doidas e Santas, de Martha Medeiros, teve 200 mil peças comercializadas. E cada livro dela é mais ou menos isso. Analista de Bagé, de Luis Fernando Verissimo, foi outro estouro. Por isso, com sorte, tino e paciência, a L&PM, com escritório no Bairro Floresta em Porto Alegre, é a responsável pelas páginas na língua de Anitta para Sapiens, o livro que está há 56 semanas na lista dos mais vendidos – são mais de 20 semanas em 1º lugar na categoria não-ficção. Quase 200 mil livros vendidos em 2017. E tudo por culpa de um caranguejo gaúcho que ousou sair do balde. Fica a dica. Tanto do livro quanto para você sair do balde da mesmice em 2018.