Jogar uma Libertadores em meio a uma pandemia que, aqui no Brasil, deixa nesta semana rastros diários de 4 mil mortes exige improvisos. O começo da decisão entre Grêmio e Independiente del Valle, na noite desta sexta-feira (9), tem todas as feições desses paliativos que esses dias duros nos exigem. A primeira partida pela vaga na fase de grupos foi precedida de uma maratona pelo continente, de desafios de logística para os clubes e até de intervenções governamentais.
O Equador rompeu o acordo firmado lá em 2020 com a Conmebol, que permitia jogos de suas competições e delegações estrangeiras. O Paraguai abriu uma exceção para delegações de futebol e livrou-as de cumprir uma quarentena de sete dias para quem chega de fora do país. Só depois dessa costura que envolveu até questões diplomáticas é que Grêmio e Del Valle se enfrentam no Defensores del Chaco, em Assunção, em data e hora fora da agenda da Libertadores e com os aspectos técnicos em segundo plano, com desfalques e semana sem treino de um lado e a perda do mando do outro.
Tudo isso dá à principal competição da América um ar mambembe. Não precisava submetê-la a isso, mas jogar no momento em que a pandemia mostra uma face ainda mais assustadora cobra essa ginástica toda.
A Conmebol tenta de todas as formas manter seu calendário e levar adiante seus campeonatos. Mas ela não está sozinha nisso. Os clubes querem jogar. Mais do que querer, precisam entrar em campo para se manter minimamente saudáveis no aspecto financeiro. Um ano inteiro de portões fechados e redução de receitas de todas as ordens impactam qualquer mercado de futebol. Se provocaram danos nos gigantes europeus, imagina do lado de cá do oceano, em que as contas são fechadas em cifras bem mais terrenas.
É evidente que não há aventura dos clubes nem voo cego ao entrar em campo. Há protocolos sanitários rígidos a serem cumpridos e uma testagem em massa que, talvez, só se veja em quem está na linha de frente nesta guerra contra a covid. Só entrará em campo nesta noite, em Assunção, quem negativou no PCR. O futebol desenvolveu um sistema ágil e, até certo ponto, eficiente para seguir em atividade. Está longe de ser uma bolha sanitária, como a vista na NFL, NBA e na Liga dos Campeões, em 2020, e agora, na Superliga de Vôlei.
Aliás, nem seria possível fazer algo assim com tantos jogos e com uma geografia tão continental. Mas há um protocolo que ajuda o futebol a seguir. O problema é que, a cada dia, o vírus exige mais esforço de quem precisa entrar em campo numa competição como a Libertadores. E atender a essa demanda faz com que o improviso deixe nosso maior produto com ares mambembe.
Nesta sexta-feira, tem jogo. É só o que podemos prever nesses dias assustadores de pandemia.