Marcelo Grohe é um sujeito diferenciado, de uma educação e de um caráter irretocáveis. Em 2014, fiz um bem alentado perfil dele para a Zero Hora. Foram duas horas de entrevista e mais uma ida com ele até Campo Bom, para sessão de fotos na praça central da cidade e uma visita com ele à escola pública em que estudou na infância.
Ou seja, conheci um pouco o Grohe que está por trás das luvas e da camisa e goleiro. Impossível deixar de perceber que ali estava um ídolo com vida real. É raro encontrar famosos assim, cuja transparência permite detectar que o cara que está ali em público é o mesmo quando as luzes do espetáculo se apagam.
Por tudo isso que relatei, não me surpreendi com a atitude de Grohe lá na distante Jeddah, cidade encravada às margens do Mar Vermelho. Confinado com a mulher, Paula, e os dois filhos, Pietro, quatro anos, e Marcela, um, o goleiro tentava sair da Arábia para voltar ao Brasil. A chance apareceu há 20 dias em um voo para jogadores e familiares com destino à França. Em Paris, cada um embarcaria rumo ao seu destino.
Era a saída ansiada por Grohe para trazer sua família de volta ao Brasil. Neste instante, apareceu o caráter citado no começo deste texto. A gaúcha Carine Alves, 27, que trabalha com os Grohe desde que desceram m Jeddah, estava impedida de viajar por não ter passaporte europeu. O goleiro agradeceu pelos lugares no voo e seguiu na Arábia, para não deixar Carina sozinha.
Há 10 dias, surgiu outra chance, com um voo para Frankfurt, na Alemanha. Outra vez, havia a questão do passaporte de Carina. Outra vez, Grohe declinou do convite. Na madrugada desta terça-feira, ele, a família e sua fiel escudeira gaúcha iniciam a viagem de volta para casa.
O goleiro liderou uma mobilização e conseguiu com que a Embaixada do Brasil repatriasse seus cidadãos desgarrados na Arábia. Essa história de Grohe foi publicada no domingo, em GaúchaZH, e provocou uma enxurrada de mensagens nas redes sociais elogiando a postura do jogador. Nenhuma novidade para quem teve a chance de conhecê-lo mais de perto. Esse, aliás, é o mesmo Grohe que você via de luvas e camisa do Grêmio aqui na Arena.