O destino sempre conspirou para que as vidas de Marcelo Medeiros e Romildo Bolzan se cruzassem. Por isso, não surpreende que o primeiro Gre-Nal da história pela Libertadores aconteça justamente na gestão deles como presidentes de Inter e Grêmio. O que não deixa de ser uma bênção para esse clássico. A amizade dos dois ajuda a manter a cordialidade e o respeito. Mais do que isso, ela clareia e ameniza uma relação que, muitas vezes, acaba turvada pela rivalidade insana e contamina o coração do torcedor.
A relação respeitosa de Medeiros e Romildo trouxe para o cenário do Gre-Nal a leveza do qual ele necessita, diante de tantas tensões. É o exemplo vivo de que o jogo se encerra em si e não vale o preço de uma amizade. Que no caso dos dois presidentes já passou dos 40 anos.
Medeiros e Romildo se conheceram em 1976, no pátio do Colégio Anchieta. O presidente do Inter já era aluno. O do Grêmio recém chegava de Osório para cursar o segundo grau. Não eram colegas de aula, mas Medeiros sabia que Romildo era filho do deputado estadual Romildo Bolzan. E Romildo sabia que Medeiros era filho de dirigente importante do Inter. Nessa época, os dois já eram adversários nos campeonatos de futebol interséries do Anchieta. Ambos, olha a coincidência, se diziam camisas 10.
A relação deles, no entanto, só estreitou mais à frente, mesmo que Medeiros tenha entrado no Direito da UFRGS, e Romildo, no da PUC. O elo foi o ex-deputado Vieira da Cunha, colega de aula de Medeiros na faculdade e colorado como ele. Mas também era parceiro de Romildo na política do colégio. Uma relação que começou numa disputa eleitoral pelo Grêmio Estudantil do Anchieta, seguiu com os dois no comando da Umespa (União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre) e se estreitou ainda mais quando Vieira começou a namorar Luciane, a irmã de Romildo.
Dessa forma, estava pronto o cenário para que a amizade entre os dois presidentes se estreitasse. Vieira levou Medeiros algumas vezes a tiracolo ao apartamento dos Bolzan, na Rua Duque de Caxias, quase vizinho à Assembleia Legislativa. Era começo dos anos 1980, de um Brasil ainda com as restrições de uma ditadura e com assunto de sobra para que um grupo de estudantes universitários debatesse em noites intermináveis.
Medeiros e Romildo se formaram e escolheram a mesma área de atuação no Direito. Não foram poucas as vezes em que se encontraram nos fóruns, antes de audiências. Apesar das conversas rápidas, a amizade perdurou. Mas, olha só que ironia, só se fortaleceu a partir de 2017, quando viraram os cabeças da maior rivalidade do Brasil. O que é um senhor exemplo de que a cordialidade e o respeito são capazes de vicejar mesmo na mais árida das rivalidades do futebol.