
O jornalismo é contar histórias. Quando deixa de ser assim, vira outra coisa. No livro Elementos do Jornalismo, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, os autores promovem uma série de reflexões sobre a prática jornalística. Em uma delas, explicam a importância de tornar as informações significativas, relevantes e envolventes. Ou seja, não basta contar. É preciso envolver o leitor, ouvinte ou telespectador. Conforme os autores, parte da responsabilidade do jornalista não é apenas fornecer informações, mas fazê-las de um modo que as pessoas se sintam inclinadas a ouvi-las.
Digo isso para destacar o trabalho impecável que nos foi apresentado na última sexta-feira (21) no novo programa RBS.DOC, na RBSTV. Para quem não assistiu, recomendo buscar o episódio no Globoplay. A equipe contou, em detalhes, a trágica história do bolo envenenado. Foi um trabalho que uniu apuração responsável, sensibilidade e criatividade para prender a atenção do telespectador. Mais do que uma grande reportagem, foi um arquivo histórico de um dos mais rumorosos casos policiais do Rio Grande do Sul.
Há alguns anos, na minha dissertação de mestrado, pesquisei uma importante transição no jornalismo: as informações ao vivo como forma predominante de trabalho nas redações, através das notícias urgentes, curtas e objetivas. Confesso que fiquei com uma ponta de frustração ao identificar, ao fim da pesquisa, que o jornalismo em profundidade estava perdendo fôlego. A reportagem gravada, a entrevista editada e um texto bem escrito estavam ficando de lado, tudo em nome da agilidade e da convergência com um mundo que se move de forma acelerada. Não discordo de que este caminho seja o mais adequado. O que me incomodou, na época, era perceber que poderia ser o único.
Mas, após assistir atentamente ao programa especial de sexta, sinto que podemos estar diante de uma correção de rota. O público quer, sim, consumir reportagens com aprofundamento, desde que bem contadas, claro. Uma edição inteligente e entrevistas bem feitas têm espaço no meio da enormidade de conteúdos curtos à disposição do público. Não estamos reféns dos vídeos de 15 segundos.