Um Corcel marrom, em Porto Alegre, e um Fusca preto, em Osório, foram os primeiros veículos que entraram na freeway depois da inauguração. Pontualmente, às 6h de 27 de setembro de 1973, a Polícia Rodoviária Federal liberou o trânsito na primeira autoestrada do Brasil. No final da tarde do dia anterior, o presidente Emílio Garrastazu Médici inaugurou a rodovia e, numa comitiva de aproximadamente 200 veículos, percorreu os 96,4 quilômetros entre Porto Alegre e Osório. Moradores de Cachoeirinha, Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Osório acompanharam nas margens e viadutos.
A BR-290 deixou mais rápida a viagem entre a Região Metropolitana e o Litoral Norte, deslocando o trânsito da Estrada Velha (ERS-030). A nova rodovia permitiu a ligação da BR-101 com a Ponte do Guaíba, facilitando os deslocamentos rumo à Argentina e aos outros estados brasileiros.
Além do desenvolvimento econômico do Estado, a freeway teve papel fundamental para mudar o veraneio dos gaúchos. O porto-alegrense migrou das praias do Guaíba para o Litoral Norte. Grandes cidades surgiram à beira do Atlântico. Pela freeway, concedida atualmente à CCR Via Sul, passam em média 43 mil veículos por dia.
Melhor do Brasil
A cerimônia de inauguração foi rápida, em torno de 10 minutos, no início da rodovia em Porto Alegre. O ministro dos Transportes, Mário Andreazza, apresentou a freeway como a melhor estrada do Brasil.
Afinal, qual o nome da rodovia? A questão gera controvérsia. Na inauguração, Andreazza disse que dar o nome de Marechal Osório à BR-290 era uma justa homenagem a Manuel Luís Osório, líder militar brasileiro na Guerra do Paraguai.
Nas placas de sinalização na estrada hoje, consta o nome Rodovia Osvaldo Aranha. O detalhe é que, em 1973, o deputado federal Aldo Fagundes pediu a retirada do projeto apresentado por ele para homenagear o político e diplomata gaúcho com nome da rodovia entre Osório e Uruguaiana. Não chegou a ser aprovado no plenário da Câmara dos Deputados.
Em 2015, o deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS) apresentou projeto de lei, não votado em plenário, para denominar Rodovia Romildo Bolzan o trecho da BR-290 entre Porto Alegre e Osório. Seria uma homenagem ao ex-prefeito de Osório e ex-deputado estadual, pai do ex-presidente do Grêmio Romildo Bolzan Júnior.
Três mil funcionários na obra
A obra da freeway começou em 27 de agosto de 1970, com três frentes de trabalho. A chuva atrasou a construção, causando adiamentos do prazo de conclusão. O projeto original também sofreu alterações.
A obra envolveu mais de três mil operários. No total, foram 55 obras, entre pontes, viadutos e trevos. Na fase da terraplenagem, movimentou 450 máquinas pesadas e 700 caminhões.
Originalmente, a estrada de duas pistas somava quatro faixas, duas em cada sentido, separadas por largos canteiros centrais. A freeway tem hoje trechos com três ou quatro faixas em cada sentido. O número de acessos também era menor. Em Porto Alegre, as entradas e saída eram apenas pelas Avenida Castello Branco e Assis Brasil. As alças para acesso à BR-116, rumo a Canoas e ao aeroporto, são posteriores.
Limite de 120 km/h
A nova estrada exigiu muita atenção dos patrulheiros rodoviários. A velocidade máxima permitida era 120 km/h. Motoristas, acostumados com vias esburacadas e cheias de curvas, ganharam uma "pista de corrida", de ótimo asfalto e longas retas. Sem postos no trecho de 96,4 quilômetros, policiais alertavam que os veículos precisavam ter combustível para toda a viagem.
Acidentes com caminhões desde o primeiro dia
Nas primeiras horas após a liberação, o policiamento teve uma amostra do que seria rotina nas décadas seguintes. Caminhoneiros dormiram ao volante na monótona viagem. Na primeira noite, caminhão Mercedes Benz, de Torres, carregado de frutas e legumes, saiu da pista. Poucas horas depois, já na madrugada, caminhão FNM, de Florianópolis, também foi para o canteiro. Nenhum dos caminheiros teve ferimentos graves.
Outros problemas marcam a história da autoestrada desde 1973. No primeiro dia, patrulheiros já agiram contra pessoas que estavam em cima de viaduto e jogavam pedras sobre carros. Outros moradores do entorno cortaram as telas nas margens para atravessar a rodovia apesar da proibição e do risco.
Primeira estrada pedagiada do RS
A freeway foi a primeira rodovia pedagiada no Rio Grande do Sul. A cobrança começou em 20 de novembro de 1973. Os motoristas de automóveis pagavam Cr$ 5. Corrigindo pela inflação do IPC-Fipe acumulada em quase 50 anos, equivale a R$ 5,89. Em outra comparação, com o valor da tarifa era possível comprar cinco jornais em 1973.
Veja a história e vídeos de outras estradas do RS:
- Como era a Estrada Velha antes da construção da freeway
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