Primeiro astrofísico graduado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o porto-alegrense Arthur Loureiro é protagonista de uma história de dar orgulho. Pesquisador da Universidade de Estocolmo, na Suécia, ele acaba de receber um financiamento equivalente a R$ 3 milhões da Agência Espacial Sueca para ajudar a ciência a desvendar um dos maiores mistérios do universo.
A conquista é fruto de uma trajetória de mais de 15 anos de dedicação.
Depois de concluir o curso na UFRGS, em 2013, Arthur ultrapassou fronteiras. Fez mestrado em Física na Universidade de São Paulo (USP) e doutorado no University College London (UCL), no Reino Unido. Em ambos os casos, foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
No Exterior, o gaúcho integrou o projeto do telescópio Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA). Ele foi o único brasileiro convidado a acompanhar o lançamento do equipamento na base de operações da ESA, em Darmstadt, na Alemanha.
Assim como o telescópio James Webb (que ficou famoso pelas imagens em alta definição do espaço), Euclid vem auxiliando cientistas na busca por respostas sobre o funcionamento das galáxias e a composição do cosmos — em especial, sobre a matéria e a energia escuras que permeiam o Universo, as galáxias e o que mais houver "lá fora".
Isso é importante porque pode, por exemplo, levar à descoberta de novas formas de energia na Terra.
O foco da pesquisa
Desde cedo, Arthur concentrou suas pesquisas em elementos invisíveis a olho nu chamados neutrinos. São "partículas-fantasma" sobre as quais ainda se sabe pouco. A hipótese do gaúcho é de que os neutrinos podem ser a chave para entendermos o que é a matéria escura, abrindo uma janela para compreendermos melhor o Big Bang (teoria que explica a origem do Universo a partir de uma grande explosão).
Agora, graças ao apoio internacional, ele poderá ampliar o estudo.
— É um desafio imenso e uma grande oportunidade. Essa conquista não veio sem percalços. Faz 10 anos que estou longe do Brasil, lidando com a saudade da família, dos amigos e até das coisas simples, como o xis da Lanchera do Parque (um clássico junto à Redenção, em Porto Alegre), mas acredito que estar no Exterior me permite contribuir mais para a ciência brasileira. Esse novo financiamento vai inclusive ajudar a fortalecer laços com a UFRGS — celebra o estudioso.
O projeto financiado pela instituição sueca prevê cursos e colóquios no Brasil, com apoio do CNPq. O primeiro evento será uma palestra para alunos de graduação no Departamento de Astronomia da UFRGS no próximo dia 26 de fevereiro, sobre Cosmologia e o telescópio Euclid.
No futuro, Arthur também pretende ensinar alunos e professores a usar dados do equipamento em pesquisas próprias, assim que as informações se tornarem públicas.
— O Brasil pagou pela minha formação, e eu quero devolver isso ao país. Quero muito que a UFRGS possa replicar o que aprendi. Já dei palestra na Nasa e não fiquei tão ansioso. Vai ser, também, um retorno para casa. Estou muito feliz — diz o cientista.
E é para estar mesmo.