O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
O taxista Newton Boa Nova,71 anos, é um personagem conhecido dos porto-alegrenses — e até já marcou presença aqui na coluna algumas vezes. Está constantemente engajado em causas sociais, auxiliando nas campanhas de doação de sangue, Outubro Rosa, Novembro Azul e cautela no trânsito. Sempre com muito bom humor.
A construção desta figura carismática começou em 1999 — inclusive, com registro em Zero Hora, pelas lentes de Mauro Vieira, falecido em setembro deste ano —, quando decidiu que iria se vestir como Papai Noel, enfeitar o seu táxi — na época, um Gol — com luzinhas e sair por Porto Alegre levando alegria para os seus conterrâneos. Virou sua marca registrada e, desde então, há 25 anos, ele jamais falha: chega dezembro e Boa Nova vira o Bom Velhinho.
Em 2024, porém, ele decidiu que era preciso mais do se vestir como Papai Noel, por conta da tragédia climática que o Estado enfrentou. Então, mesclou a mensagem de esperança que o Santa Claus representa com a vontade de abraçar cada um dos gaúchos. Pediu para a amiga e costureira Ledi Aggi para confeccionar o traje do personagem, mas com uma diferença: teria que ter as cores do Rio Grande do Sul.
Assim, o gorro virou verde, a calça amarela e o casaco se manteve vermelho. Transformou-se em uma grande bandeira do Estado — com um travesseiro por dentro da roupa, para fingir que é a barriga do Bom Velhinho. A barba, porém, cultivou para que fosse natural, já que antes usava uma falsa, mas as crianças, quando a puxavam, ficavam decepcionadas. Agora, isso acabou.
— Depois de tudo que a gente passou com a enchente, em que muita gente perdeu tudo, achei essa maneira de levantar o astral dos gaúchos, da população: o Papai Noel diferenciado, saindo esse ano em homenagem ao Rio Grande do Sul. É uma homenagem a todos os gaúchos, que estão precisando sorrir mais. E ainda teve essa tragédia em Gramado, na reta final do ano. Precisamos mais do que nunca de esperança — salienta Boa Nova.
Vale a pena
O carro do taxista, um Fiat Cronos, está personalizado para receber os passageiros no clima natalino: luzes de led contornam o automóvel, festões — com as cores do Estado, é claro — espalhados pela lataria e internamente, bem como plaquinhas personalizadas nas portas e no capô desejando "feliz Natal". Ah, e a música dentro do veículo é temática. O investimento é baixo, segundo o motorista, levando em consideração o retorno do público.
— As pessoas ficam felizes quando entram no carro e as corridas melhoram nessa época do ano. Crianças pedem para ir no táxi do Papai Noel. Mas, realmente, o principal é ver o sorriso de quem entra no carro e diz que precisava deste ânimo, depois de um ano difícil — explica o Bom Velhinho, que recebia buzinadas e acenos de quem passava por ele no trânsito. — É sempre assim. Quem vê o Papai Noel, volta a ser criança. E isso é muito importante.
Segundo Boa Nova, a sua casa, que fica no bairro Passo D'Areia, não foi atingida pela enchente, mas, na época, decidiu que era preciso estar com os desabrigados. Por isso, foi ser voluntário na paróquia Nossa Senhora de Fátima, auxiliando as 70 pessoas que lá estavam. Como Papai Noel, conta que, volta e meia, recebe doações de brinquedos e encaminha para escolas.
E, entre os mais curiosos pedidos que recebe enquanto leva os passageiros em seu carro, desde o desejo para que o irmão pare de ser brigão até ganhar um cachorro, o taxista conta do momento que mais mexeu com ele:
— Teve uma vez, há uns quatro anos, que eu estava parado na sinaleira e um morador de rua se aproximou. Ofereci balas para ele, que disse: "Não quero bala, Papai Noel". Ele, então, me deu a mão e ficou assim, por alguns minutos, apenas me olhando, com um olhar de felicidade. Alegrei ele apenas por estar ali.
Para encontrar o Bom Velhinho — ou o Newton Boa Nova —, basta ir até o ponto de táxi do Iguatemi entre meio-dia e 23h e ele estará lá, aguardando para entregar uma corrida recheada de histórias, risadas e desejando um 2025 melhor.