Quando Nora Teixeira visitou a emergência do SUS na Santa Casa de Porto Alegre, em março de 2018, viu de perto a agonia dos pacientes atendidos em macas improvisadas. Faltava espaço para tanta gente. Condoída, olhou para o diretor-geral Julio de Matos e disse:
— Precisamos mudar isso. Que projeto vocês têm?
Casada com Alexandre Grendene Bartelle, um dos empresários mais bem-sucedidos do Estado, Norinha, como é conhecida, decidiu agir. Ela já fazia caridade no anonimato há alguns anos. Com um grupo de mulheres chamado Voluntárias pela Vida, angariou verbas para reformar a UTI do Hospital da Criança Santo Antônio. Não precisava se envolver mais, mas não sossegou até atrair tradicionais famílias e empresas gaúchas à nova causa.
Começou dando o exemplo e doando R$ 80 milhões com o marido. Dali em diante, não só viabilizou uma nova emergência, como foi além: juntou doações para erguer um hospital de 15 andares, equipado com o que o que há de mais moderno na Medicina.
Na tarde desta quinta-feira (19), ao som da Orquestra Sinfônica da Capital, na celebração dos 220 anos da Santa Casa, o Hospital Nora Teixeira será, finalmente, inaugurado. E o nome escolhido não poderia ser outro.
Dos R$ 284 milhões do projeto, R$ 230 milhões chegaram por meio do apoio voluntário, complementados com recursos do governo do Estado e do Fundo Municipal do Idoso. O impossível virou realidade.
— Nora revolucionou a benemerência no Rio Grande do Sul — resume o cardiologista Fernando Lucchese, diretor do novo hospital, que, indiretamente, vai ajudar a sustentar os atendimentos pelo SUS na Santa Casa.
Ao longo da caminhada, a benfeitora conta que jamais ouviu um não:
— Levei a ideia às famílias e todas apoiaram. Foi incrível.
Agora, vem aí mais um projeto. O novo objetivo - que Norinha vai anunciar amanhã e ainda mantém em sigilo - deve ser a reforma do Hospital Dom Vicente Scherer, referência internacional em transplantes de órgãos e tecidos.
Bom gosto
O hall de entrada do hospital Nora Teixeira foi projetado por dois dos mais badalados arquitetos da atualidade no Brasil: Sig Bergamin e Murilo Lomas, de São Paulo. A pedido de Norinha, a dupla concordou em doar o projeto.
Camas tchecas e trilhos
A UTI do novo hospital tem camas importadas da República Tcheca que - veja bem - até conversam. Elas informam detalhes como o peso do doente e podem ser programadas para mudar de posição de forma automática. Viram até sofás. Além disso, os quartos da UTI possuem trilhos no teto, assim, vestidos em uma espécie de colete de transporte, os pacientes são levados para a área de reabilitação.
— Andamos o Brasil e o mundo atrás do que havia de mais moderno. Agora, o que há de mais moderno está aqui — diz o cardiologista Fernando Lucchese, diretor do hospital.
Obstetrícia
A área obstétrica possui inclusive banheiras, para mulheres que desejam um parto dentro da água. Outra novidade é o setor especializado em cirurgia fetal: com apoio de especialistas de Barcelona, na Espanha, o novo hospital poderá fazer correções intrauterinas, inclusive cardíacas.
Oncologia
O setor de oncologia vai contar com a parceria e a expertise do Hospital Albert Einstein, um dos melhores do Brasil na área.