A jornalista gaúcha Fernanda Baumhardt é o que se poderia chamar de "rebelde com causa". Com um pé na Suíça e outro no Brasil, ela acaba de desembarcar em Porto Alegre para lançar o livro “Vozes à flor da pele – Uma humanitária brasileira em busca de propósito” (Editora Lacre, 244 páginas). Na obra, ela conta o percurso que trilhou durante 15 anos, quando participou de 40 missões humanitárias em zonas de crise, levando a câmera e o microfone a comunidades atingidas, de um jeito único.
O início dessa história remonta a 2007, quando Fernanda decidiu pedir demissão de um emprego dos sonhos na CNN de Los Angeles, nos Estados Unidos.
Ela morava na Califórnia, em Venice Beach, a quatro quadras do mar, e recebia um salário polpudo, mas o "sonho americano" tinha deixado de fazer sentido. A jornalista dava os primeiros passos no budismo e havia ficado impressionada com o documentário "Uma Verdade Inconveniente". Lançado em 2006 por Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, o filme alertava para a mudança climática.
— Eu estava em um momento de questionamentos, em busca de um verdadeiro propósito. Decidi que queria ajudar o planeta — recorda a porto-alegrense, que batalhou (e conseguiu) uma bolsa de mestrado na Faculdade de Ciências da Vida na Terra, da Universidade Livre de Amsterdã, nos Países Baixos.
A partir daí, Fernanda conheceu uma metodologia de comunicação chamada "vídeo participativo" e teve a chance de fazer sua primeira pesquisa de campo com a Cruz Vermelha, em Malaui, na África.
A metodologia funciona assim: você entrega a filmadora e abre o microfone para grupos comunitários vulneráveis e deixa que eles próprios, sem roteiro pré-estabelecido e sem interferência, narrem suas dificuldades. A ideia é dar protagonismo a quem não tem esse privilégio, como no caso de pessoas que vivem em áreas de conflito.
Dali em diante, ela não parou mais. Esteve em locais como o Sudão do Sul, mergulhado em uma guerra étnica, e no Afeganistão, onde teve de lidar com o próprio medo. Atuou em catástrofes como o terremoto que atingiu o Equador e em inundações no Peru. Viu a fome na Venezuela e conheceu sobreviventes da guerrilha colombiana.
Em 15 anos, acumulou 300 horas de gravações, além de mais de 8 mil fotografias e depoimentos documentados. O material inclui as falas de 11 mulheres que pela primeira vez seguraram uma câmara para filmar seus próprios relatos. As vozes delas, de alguma forma, se misturaram à de Fernanda.
Tudo isso está no livro que a jornalista lança neste sábado (23) na Livraria Santos, da Galeria Casa Prado, em Porto Alegre, a partir das 16h. A obra também será autografada na Feira do Livro da Capital às 18h, em 31 de outubro. São 244 páginas que merecem - muito - ser lidas.