No acervo adquirido de uma família gaúcha em Gramado, na Serra, o livreiro George Augusto Barbosa - veterano no mercado de compra e venda de livros usados em Porto Alegre - encontrou uma preciosidade: a edição original de um abecedário escrito em 1936 por Erico Verissimo.
Em atuação na área desde 1983, George Augusto, que já havia localizado um poema inédito de Mario Quintana, revendido à Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado em 2022, ficou surpreso ao deparar com o exemplar intacto de "Meu ABC".
— O livro está perfeito, tão bem conservado que até parece novo. É original, da primeira edição, uma raridade — conta o livreiro, que buscou compradores para o achado entre colecionadores e instituições do RS, mas não obteve sucesso e acabou revendendo o exemplar para um cliente de Curitiba, cujo nome mantém em sigilo, assim como o da família que resguardava o livro até então.
Especialista no assunto, a professora Cristina Maria Rosa, da Faculdade de Educação da UFPel, confirmou à coluna a importância da descoberta. Em 2013, ela lançou a obra "Onde está Meu ABC, de Erico Verissimo? Notas sobre um livro desaparecido" (Editora UFPel). O trabalho nasceu de um pós-doutorado em Estudos Literários na Educação, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
— Fiz uma ampla pesquisa, procurei no Brasil inteiro, em acervos públicos e privados, e só encontrei um exemplar, na Biblioteca Lucília Minssen, da Casa de Cultura Mario Quintana. Nem a família tem o original. Acredito que o livro desapareceu, porque não possui a assinatura de Erico, embora seja, de fato, uma criação dele — afirma a pesquisadora.
Publicado pela editora da Livraria do Globo, o material é ilustrado pelo alemão Ernst Zeuner e integra a coleção Biblioteca de Nanquinote, de livros para a infância brasileira nos anos de 1930.
O abecedário é um gênero da Literatura Infantil com características lúdicas, criado para ajudar no processo de alfabetização de crianças. No Rio Grande do Sul, grandes autores dedicaram-se a esse tipo de produção, além de Verissimo. Foram os casos, por exemplo, de João Simões Lopes Neto, com "Artinha de Leitura" (1908), e de Mario Quintana, com "O Batalhão das Letras" (1948).