
O longo e minucioso trabalho de reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que revelou um cenário inacreditável em escolas da rede municipal de Porto Alegre, é a prova cabal de que, para resolver os problemas da Educação, não basta só dinheiro.
Fosse assim, livros, chromebooks e kits pedagógicos comprados em 2022 pela prefeitura não estariam empilhados em armários, salas e depósitos. Não estariam esquecidos e, em alguns casos, guardados de forma precária, acumulando pó e até fezes de pombos.
São itens de boa qualidade, parte deles de excelência, comprados com recursos públicos (nossos recursos, é bom lembrar). A situação retratada pelos repórteres Adriana Irion e Carlos Rollsing em fotos, vídeos e textos não pode ser tratada como "normal". A primeira pergunta a ser feita é: por que os materiais estão longe dos alunos e das salas de aula? Por que não são aproveitados?
Nas instituições de ensino, servidores disseram aos jornalistas que os livros "nunca foram solicitados" e que teriam sido comprados sem consulta prévia e sem plano pedagógico de aproveitamento. Um funcionário chegou a afirmar que o material surgiu "como disco voador", sem explicação, sem aviso.
Isso precisa ser tirado a limpo.
Desde sempre, gestões públicas são cobradas, e com razão, para que ampliem os investimentos em educação. Sempre houve consenso de que, sem verbas, é difícil superar os entraves físicos. Só que isso precisa fazer sentido lá na ponta, no dia a dia das escolas, na relação professor-aluno, no planejamento diário das aulas. De que adianta comprar 470 mil livros, se as obras não chegarem às mãos de quem deveriam chegar?