Foi Milton Nascimento quem mais estimulou Gastão Villeroy a cantar. Anos atrás, na Itália, Milton ouviu Gastão testando o microfone na passagem de som e disse a ele:
– Hoje, no show, você vai cantar Morro Velho comigo.
Gastão começou a fazer músicas com parceiros nas letras, o tempo passou e ele finalmente lança seu primeiro álbum, Amazônia Amazônia, recheado de grandes nomes, a começar por Milton. A dimensão dos convidados resulta da qualidade da música e do temperamento do compositor, contrabaixista e agora cantor que, em 2017, completa 30 anos de trabalho a partir do Rio de Janeiro, tocando e gravando com gente como Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, João Bosco, Wayne Shorter e, claro, Milton, seu "empregador" mais permanente e uma de suas nítidas influências – como se pode ouvir na épica faixa-título (letra de Márcio Borges), emoldurada pela voz de Maria Gadú e a guitarra de Leonardo Amuedo. Instrumentistas top estão por todo o lado, tocando arranjos sensíveis para melodias inspiradas e versos à altura, de temática variada.
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Temperos jazzísticos passam por ares mineiros, cariocas, nordestinos e gaúchos – nascido em São Gabriel, Gastão começou a carreira nos anos 1980 em Porto Alegre, tocando na banda do mano Antonio Villeroy. O latin jazz instrumental Caballito abre o disco, com a guitarra de Paulinho Fagundes. Rio Seco é definida por Lenine (que a canta junto com Gastão) como uma "milonga maracatu". Com a voz de Milton, Ismália é feita sobre poema de Alphonsus Guimaraens (1870 – 1921). A letra em espanhol de Ilusionado, uma das faixas mais tocantes, é de Vitor Ramil. Nelson Coelho de Castro faz parceria no samba Buscando tu Amor. No sambalanço Casamento, o convidado é Seu Jorge. Na Picada da Maré, parceria com Chico Amaral e a voz de Samuel Rosa, é um jazz manouche. Jazz com clima vintage, It Would Never be Enough tem parceria com o americano Jesse Harris. E outra instrumental, Pampa Andaluz, fecha o álbum com Nivaldo Ornellas no solo de sax.
Gastão revela-se um belo compositor e intérprete. Já tem o passaporte, agora é só continuar a viagem. Que venha o próximo disco.
AMAZÔNIA AMAZÔNIA
De Gastão Villeroy
Gravadora Biscoito Fino, R$ 29,90, também nas plataformas digitais.
Show de lançamento em Porto Alegre no dia 8 de abril, no Espaço 373.
ANTENA
Menino Da Silva
De Lenine Guarani
A atração do Café Fon Fon no próximo domingo é Lenine Guarani, filho do cantor Taiguara (1945 – 1996). Ele nasceu no Rio e, aos sete anos, meses depois da morte do pai, transferiu-se com a mãe para São Paulo. Poucos sabiam de sua existência até 2009, quando integrou o Coletivo Quinta Dissonante, de novos músicos, que durante dois anos fez o circuito paulista de shows – entre seus integrantes estavam Maria Gadú, Dani Black e Pedro Altério. Ouvido por um produtor do selo Kuarup, Lenine lançou em 2012 o primeiro (e único) disco, que ainda pode ser encontrado. Ao lado de três canções próprias, todas com espírito reflexivo, meio tristes, mas bonitas e bem feitas, ele mostra sua predileção pela sonoridade da MPB dos anos 1960/70. Isso fica explícito na escolha de músicas da época para regravar, como Ponteio (Edu Lobo/Capinan), O Cantador (Dori Caymmi/Nelson Motta) e o samba de protesto Agora Falando Sério (Chico Buarque). A memória de Taiguara marca o álbum em três canções: Samba do Amor, O Olhar (ambas de seu derradeiro disco, Brasil Afri, de 1994) e o choro Menino da Silva, de conteúdo político, composto nos anos 1970 em homenagem ao pai, o bandoneonista gaúcho Ubirajara Silva. Jovens instrumentistas e arranjadores pontuam a sinceridade do trabalho de Lenine, cuja voz lembra uma mescla de Toquinho e... Taiguara. Kuarup/Sony, disponível nas plataformas digitais. Show no Café Fon, domingo, às 20h. Informações: (51) 9-9308-0285
COMO VINHO 70 ANOS
De Gilson Peranzzetta
Artista superlativo, o pianista, compositor e arranjador carioca escolheu a carismática Sala Cecília Meirelles para gravar ao vivo o álbum comemorativo aos seus 70 anos de idade e 50 de carreira, que traça uma espécie de síntese desse tempo. Não é uma síntese histórica, pois não repete nada, e sim formal: estão no disco o piano solo, piano e voz, piano e cordas, música instrumental e cantada, música erudita – só falta mesmo uma orquestra sinfônica como as que ele tem sido solista ao redor do mundo. Além de mais de 30 discos solo, Peranzzetta está em discos da nata dos intérpretes brasileiros, sendo gravado também por grandes nomes internacionais. O álbum começa com a faixa-título, Como Vinho, em piano solo. As cinco seguintes têm seu quarteto, sendo que, no Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4, de Villa-Lobos (única não assinada por ele nesta primeira parte), brilha o sax soprano de Mauro Senise, mais perene parceiro. As cinco composições da segunda parte são compartilhadas com o Quarteto Radamés Gnattali e duas têm letra, Vivência (parceria com Dori Caymmi/Paulo César Pinheiro), cantada por Valéria Lobão, e Sorriso de Luz (com Nelson Wellington), interpretada por João Senise. Fecha o disco a outra música de outro autor, As Rosas Não Falam (Cartola), piano e a voz de Leny Andrade. Só iguarias. Fina Flor, R$ 24,90
Coluna
Juarez Fonseca: Gastão Villeroy começa por cima
Primeiro disco do músico tem Milton Nascimento, Seu Jorge, Samuel Rosa, Lenine e Maria Gadú
Juarez Fonseca
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