Já se passaram três semanas desde o desmoronamento de pedras na RS-122, entre São Vendelino e Farroupilha. Neste período, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) ainda não conseguiu dar uma previsão de quando a rodovia será liberada.
Por causa disso, trabalhadores gastam mais tempo para fazer os deslocamentos sugeridos, indústrias pagam mais para mandar seus produtos até o destino e os governos arrecadam menos com os impostos recolhidos por causa da diminuição da produção. O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Farroupilha, Daniel Bampi, chegou a dizer que a cidade está semi-ilhada.
Segundo estudo feito pela Agenda 2020 no início da década, o Rio Grande do Sul deixava de faturar bilhões de reais por falta de investimentos em setores como infraestrutura. O custo anual de apenas uma hora de engarrafamento na BR-116 entre NH e POA chegava a R$ 1,2 bilhão, valor superior ao que custou toda a construção da Rodovia do Parque.
Basta conversar com alguns engenheiros que trabalham em estradas para identificar ao menos quatro erros básicos que foram cometidos nestes 21 dias.
1° O Daer demorou para agir
Desde a queda da barreira até a primeira ação para a retirada das pedras que atrapalhavam a estrada e que ameaçavam cair foram necessários sete dias. Neste período as medidas tomadas foram apenas paliativas.
2° Quando agiu tomou uma decisão errada
Em uma região de solo instável, a última medida que deveria ter sido tomada era optar pela detonação como ficha um. As explosões certamente deslocariam mais rochas e o trabalho aumentaria consideravelmente.
O certo deveria ter sido chamar empresas com maquinário específico para cortar as pedras já soltas. Perfuratrizes e rompedores, inclusive, poderiam ser usados em períodos de chuva, como foi o caso dos dias subsequentes ao deslizamento. Esse movimento iria permitir, com segurança, a liberação de pelo menos uma pista.
3° Geólogos foram chamados duas semanas depois
De acordo com as informações que foram divulgadas pelo Daer, se tem conhecimento que somente dez dias depois da interrupção da rodovia é que geólogos foram chamados para avaliar as condições do solo. Quando os profissionais chegaram, as primeiras detonações já tinham ocorrido.
4° Daer não aprendeu com os erros do passado
A Rota do Sol chegará a seis meses com bloqueio parcial na região de Itati. No local, próximo ao viaduto da Cascata, a rodovia está em meia pista porque as rochas que se deslocaram ainda não foram retiradas. A justificativa do Daer é que a pedras foram deixadas no local para amortecer impacto em caso de novos deslizamentos. Elas devem permanecer no trecho até que ocorram as obras de contenção da encosta. Ou seja, a rodovia foi liberada mesmo ainda havendo riscos de novos problemas.
O que diz o Daer:
O deslizamento ocorreu na segunda-feira (04/11) à noite e, no dia seguinte, às 7h da manhã, a equipe técnica já estava no local avaliando os danos e as medidas cabíveis. Devido à chuva, as atividades de campo somente puderam ser iniciadas na quarta-feira (06/11). Na ocasião, os profissionais ainda foram surpreendidos por um veículo que tentou passar pela rodovia e acabou preso nos materiais caídos da encosta, causando transtornos para as primeiras ações.
Já na primeira semana, foram realizadas a limpeza da pista, a perfuração e a quebra de rochas que estavam em cima do pavimento. Após a limpeza, o geólogo do Daer pôde avaliar a situação e elaborar um diagnóstico preliminar.
As rochas menores foram removidas pelas retroescavadeiras. Outras, com mais de mil toneladas, precisaram ser detonadas. O desmonte através de explosivos foi autorizado em tempo surpreendentemente rápido pelo Exército Brasileiro.
É importante destacar que, desde sexta-feira (08/11), a ERS-122 já contava com a pista praticamente limpa. No entanto, o trânsito continuou bloqueado devido ao risco à segurança dos usuários.
Os serviços continuam e novas detonações estão previstas para retirar da encosta as rochas instáveis e na iminência de cair.
Por fim, o Daer ressalta que todos os passos estão sendo criteriosamente avaliados por técnicos da autarquia e da empresa executora. Trata-se do pior deslizamento de encosta registrado na ERS-122 desde dezembro de 2000 – ou seja, é uma situação crítica e que justifica a complexidade da operação. Assim, a liberação do trânsito no trecho só poderá ser prevista conforme o sucesso das etapas em andamento.