
Antecipar a exportação aos Estados Unidos do estoque disponível foi a estratégia da Fueltech, fabricante gaúcha de autopeças para veículos de alta performance, para adiar ao máximo o tarifaço de Donald Trump. A indústria de Porto Alegre também tem sede nos Estados Unidos, cujo CEO, Anderson Dick, falou ao podcast Nossa Economia, de GZH, direto de Atlanta, onde mora.
Como as medidas de Trump estão sendo recebidas?
Aqui tem bastante bipolaridade política. Houve surpresa com as medidas drásticas, mas uma certa aceitação ainda porque há uma ótica protecionista.
Como impactam o negócio de vocês?
Antes, pagávamos 2,5% de imposto de importação. Quando houve o anúncio das tarifas de reciprocidade, previmos um salto, pois se tem a ideia de que o Brasil é um dos que mais cobra imposto de importação. Então, acabamos deslocando todo o estoque possível para abastecer a unidade de distribuição aqui dos Estados Unidos antes do aumento. Trazemos injeção eletrônica para carros de competição, que vão em carro de corrida, antigo, elétrico convertido... É um computador que vai no veículo, fabricado em Porto Alegre.
Esse estoque segura por quanto tempo?
Em torno de sete meses. Na enchente, perdemos todos o nosso estoque, que era grande, pois foi o que nos deu vantagem mundial na pandemia por não termos falta de produto. Conseguimos nos restabelecer.
Vale a pena produzir no Brasil e exportar para os Estados Unidos?
Eu já acreditava e sigo acreditando que o Brasil é um dos melhores países para se produzir tecnologia. Pelo drawback, mesmo que eu tenha imposto de importação caro para matéria-prima, quando eu reexportar, terei compensação desse imposto. Isso anula o imposto da matéria-prima. Além disso, o Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, tem mão de obra barata e qualificada. A relação entre qualificação e preço é muito interessante.
Como é o quadro de funcionários de vocês?
Temos 250 funcionários em Porto Alegre, sendo mais de 50 engenheiros. É um desafio contratar engenheiros eficientes de alta qualidade no mundo. E o custo de um operador de máquinas aqui nos Estados Unidos é de três a cinco vezes maior do que no Brasil.
Cogitam levar a fabricação para outro lugar?
Brasil também tem a favor a segurança de informação e tecnologia. Empresas que fabricam na China sofrem muito com cópias, com a própria empresa fazendo o produto em outro turno para vender como pirata. É um dos fatores para nunca querermos fabricar na Ásia.

E para os Estados Unidos, como Trump quer?
Os 10% que ele estabeleceu são muito menores do que esperávamos. Não faz sentido montar estrutura aqui e até nos animou de certa forma. Nossos concorrentes são feitos na China, praticamente invalidados pela taxação, ou na Europa, que passou de 2,5% para 20%, enquanto passamos a 10%. A Austrália tinha isenção e passou a 10%, como nós. Não tivemos prejuízo e estamos com estoque. Então, só se o governo Trump der incentivos para trazer produção.
Mas olhando o risco de uma desaceleração da economia global, seria ruim?
É difícil projetar, mas sendo essa uma hipótese, se a economia frear mundialmente, vai ser pior para todo mundo. Ponto. Não tem o que falar. Mas por enquanto nossas vendas subiram de 20% a 30% aqui, a economia não parou e para nós , aqueceu. Só não sabemos se é medo de ficar sem produto ou de o custo subir.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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