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A liberação do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores impedidos de acessar os recursos por terem optado pelo saque-aniversário preocupa o setor imobiliário por dois motivos. Um deles é que o fundo, junto com a poupança, está entre as principais fontes de recurso para financiamentos imobiliários e para crédito para construtoras fazerem suas obras. Desde o ano passado, a redução de recursos nestas duas fontes tem restringido muito a liberação de empréstimos para compra da casa própria. A busca por outras fontes de "funding", como o setor chama, se arrasta há anos em discussão entre governos, bancos e setor imobiliário.
— Com o custo da Selic de hoje (13,25% ao ano), financiamento de tesouraria (liberado por bancos) não se mantém e o preço de venda não se viabiliza. Liberação de R$ 1 bilhão que o Banrisul fará neste ano será fundamental para a construção — comenta o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum.
O outro ponto é que medidas para alavancar a popularidade como essa podem elevar ainda mais a inflação e levar o Banco Central a prolongar o ciclo de alta da taxa de juro Selic, que está prevista por enquanto para fechar o ano em 15%. Antes da mudança de rumo da política monetária - provocada pela alta de preços -, esperava-se que 2024 teria Selic de um dígito. O setor imobiliário é movido a crédito, que está mais caro, restrito e com alta da inadimplência gerando devolução de imóveis.
— Cada 1 ponto percentual a mais de juro exige 10% a mais de salário que o cliente tem que ganhar para financiar — o imóvel disse o CEO da Cyrela Goldsztein, Rodrigo Putinato, em entrevista recente à coluna.
Esta medida vai liberar R$ 12 bilhões, que serão, sim, "injetados" na economia com pagamento de dívidas ou consumo. Porém, se provocarem alta de inflação e de juro acabam dando com uma mão e tirando com outra. O saque-aniversário precisa ser repensado, o FGTS é dinheiro do trabalhador, a construção precisa se financiar de outra forma, mas medidas às pressas para aumentar a popularidade do governo Lula trazem efeitos colaterais.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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