O jornalista Guilherme Jacques colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço.
A expectativa da gigante chilena de celulose CMPC para 2025 é obter todos os licenciamentos e liberações necessários para o início das obras da nova fábrica em Barra do Ribeiro e de toda a infraestrutura necessária para ela em 2026. Batizado de Natureza, o projeto deve entrar em operação em 2029. É o maior investimento industrial da história do Rio Grande do Sul.
Ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, o diretor-geral da unidade de Guaíba, Antonio Lacerda, falou sobre a fase atual do projeto, o cronograma, possíveis entraves e do cenário econômico brasileiro em 2025.
Qual o atual momento do projeto?
Estamos trabalhando fortemente nas licenças ambientais para que possamos começar as obras do projeto Natureza, que é a nova fábrica de Barra do Ribeiro. O início da produção vai ser em 2029, mas, obviamente, nós queremos começar as obras em 2026. Já estamos com os projetos de engenharia bastante adiantados. É o maior investimento da história do Rio Grande do Sul na área industrial. Durante a implantação do projeto teremos mais de 12 mil empregos sendo gerados diretamente na construção da fábrica e, depois, quando a fábrica estiver rodando, outros quatro a cinco mil empregos diretos e indiretos.
Como será a execução dessa obra?
Em primeiro lugar, a gente tem tido um grande apoio e suporte, tanto do governo estadual quanto do governo federal. Eles entendem a importância do projeto para o Estado, para a CMPC e para a população. Esse projeto, ele consiste em vários outros projetos. Começando do Sul para o Norte, nós temos um investimento de aproximadamente R$ 1 bilhão, com a geração de 1,2 mil empregos em Rio Grande para a construção de um novo terminal para exportação de celulose. Lembrando que nós exportamos 97% da nossa produção de celulose. Então, precisamos de um terminal próprio para enviar quase 5 milhões de toneladas. Essa é a primeira obra. Quando a gente vem para Pelotas, queremos modernizar o terminal portuário de Pelotas. Construir um acesso viário direto para o terminal, saindo da BR e, obviamente, também precisamos de todas as permissões ambientais junto ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Não será um acesso exclusivo para o terminal da CMPC. Nós faremos para a população, para a cidade. Depois, indo para Barra do Ribeiro, vamos fazer um acesso exclusivo para a CMPC para que a cidade não tenha o tráfego de caminhões que vão abastecer a fábrica. Nós já temos um acesso exclusivo em Guaíba, e a população praticamente não vê os caminhões transitando na cidade. Teremos a construção de um terminal portuário em Barra do Ribeiro também. Um investimento de aproximadamente R$ 400 milhões para que a gente possa escoar celulose até o Porto de Rio Grande.
Quais os possíveis entraves para esse plano e o cronograma?
Temos trabalhado de forma muito transparente com autoridades e as agências reguladoras. E são várias, tanto em nível federal quanto estadual. As coisas estão caminhando dentro do cronograma. Sempre tem um desafio ou outro, é normal em um projeto desse tamanho. Mas, reitero, temos tido um suporte, apoio muito grande do governo estadual e do governo federal. Consideramos importante que todas as agências e o Ministério Público acompanhem esse projeto. É uma segurança de que o projeto está sendo executado de forma respeitosa com o meio ambiente, as pessoas e o aspecto social. Temos um cuidado muito grande. Para dar uma ideia, dentro da Fazenda Barba Negra, que é onde será instalado o projeto Natureza, vamos reconstruir a sede histórica da fazenda que tem mais de 100 anos e faremos um parque ambiental no entorno dela, para visitação aberta ao público.
A coluna tem acompanhado a tramitação da cessão da área do Porto de Rio Grande, que depende de uma liberação da Secretaria de Patrimônio da União. Vocês esperam que isso se resolva já no início deste ano?
Essa é a nossa expectativa, inclusive, temos tido várias interações com a SPU demonstrando a importância do projeto. Eles visitaram a área deste futuro terminal em dezembro. Nós teremos novas reuniões para mostrar a importância desse projeto. Até mesmo com a ministra Esther Dweck (que comanda a pasta da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, sob a qual está a SPU), em Brasília, para explicar o projeto. Não estamos pedindo nenhum tipo de benefício ou subsídio. Só queremos que essa sessão seja feita o mais rápido possível. A seção do terminal que hoje pertence a União para o governo estadual, e do governo do Rio Grande do Sul para a CMPC, através de um processo de licitação.
Qual a avaliação do cenário econômico do Brasil nesse início de 2025?
Estamos inseridos no mercado internacional de celulose, e a grande maioria da nossa produção é exportada para a Ásia. Então, somos muito competitivos. Os produtores de celulose do Brasil são os mais competitivos do mundo. E temos a crença de que a CMPC é uma das empresas mais competitivas na produção de celulose do Brasil e do mundo. Isso nos faz extremamente fortes perante qualquer oscilação no mercado internacional de celulose. A circunstância do Brasil obviamente impacta. Sempre falávamos de um investimento de R$ 25 bilhões e, agora, com oscilação do dólar, e grande parte dos nossos equipamentos é precificada em dólar, a última estimativa aponta que esse investimento pode chegar a R$ 27 bilhões ou R$ 28 bi. Mas, de novo, a nossa mercadoria, o nosso produto é cotado em dólares e o nosso investimento também. Então, nós temos basicamente uma proteção natural do nosso investimento em função da precificação da celulose ser em dólares e da nossa exportação. O que afeta o cenário brasileiro, neste momento, é a questão do mercado interno, que é pequeno para nós. A taxa de juros afeta os nossos clientes de papel e de celulose aqui no Brasil. Mas é uma porção pequena dentro do contexto. O grande desafio que a gente tem vai ser capacitação de mão de obra. Fazer com que nós tenhamos 12 mil pessoas na fábrica. Para que tenhamos 12 mil pessoas, imaginamos que vamos ter que buscar mais de 20 mil, porque tem a rotatividade natural nesses projetos e projetos semelhantes.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna