
As ferrovias gaúchas estão sucateadas há anos e isoladas do resto do Brasil e de outros países desde os estragos da enchente. O crédito extraordinário cogitado pelo governo federal não veio e a concessionária Rumo não tem sinalizado investimento algum para recuperá-las. O programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, tratou do assunto com o secretário Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes, Leonardo Cezar Ribeiro.
Alguma perspectiva para as ferrovias gaúchas?
A enchente realmente comprometeu a operação. Sabemos que ferrovia é uma infraestrutura sustentável que traz muitos ganhos econômicos e ambientais, mas, por outro lado, compreende custos elevados de reconstrução. Também é preciso pensar em uma solução logística.
Qual foi o dano nos 700 quilômetros de ferrovias?
A estrutura não pode ter problema algum, diferente de uma rodovia com um buraco e o caminhão passa pelo acostamento. Então, a operação nestes 700 quilômetros de ferrovia ficou comprometida. A infraestrutura também foi se depreciando ao longo dos anos e se tornando ineficiente. o desafio maior é que a concessão está em fase final de vigência, encerrando em 2027.

O valor estimado é bilionário...
E se não for pelo orçamento público, terá que ser pelo privado. Temos a discussão para renovar contrato, o que daria oportunidade de pensar a malha de 7,2 mil quilômetros envolvendo Santa Catarina e Paraná. Por outro lado, temos já estudo contratado para uma licitação, a ser entregue em 2025. Temos que estudar demanda, engenharia, operação, questões socioambientais, é complexo.
Ferrovia é cara, mas dá retorno de longo prazo com o desenvolvimento econômico e redução de custos. Compensa, não?
Você trouxe um ponto muito importante: a ferrovia começa a operar com demanda abaixo do custo médio da operação. Países aportam recursos exatamente para cobrir este "gap" de viabilidade para atrair investimentos privados. Temos já pronto um modelo neste sentido. Estamos fechando para levar para a administração discutir detalhes, mas o fato é que precisa de aporte de recursos para atrair o privado, na lógica de parceria com relação contratual segura que prevê todos os riscos de longo prazo. É importante que o Estado participe. Na Europa, a infraestrutura fica com o poder público e a concessão ocorre na operação de transporte, mas o custo é elevado e não temos capacidade fiscal para este modelo, não sobra dinheiro. Aqui, tem que ver qual aporte o Estado precisa fazer para que o empresário se sinta confortável no projeto. Não pode ser um aporte ilimitado. Os limites têm que estar associados à taxa de retorno dos projetos. A Índia usa esse modelo. Nos Estados Unidos, também há aporte.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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