Nada afeta mais o mercado imobiliário do que o juro alto. A casa própria é um dos maiores sonhos dos brasileiros, que, na sua maioria, compram imóvel com financiamento. A redução da taxa Selic pelo Banco Central é a grande aposta para a retomada das vendas e dos projetos novos em 2024, disse o vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.

A construção vai deslanchar em 2024?
Tem tudo para isso. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no ano passado, pode gerar um grande pacote de obras e tudo indica que começarão as primeiras construções do Minha Casa Minha Vida, que foi relançado. Mas a grande notícia veio em novembro, quando não houve aumento no juro nos Estados Unidos. Como impacta no Brasil? Caso o banco central norte-americano aumentasse o juro, talvez o Banco Central daqui tivesse dificuldade para reduzir a nossa taxa, com impacto no financiamento imobiliário. Juro é o valor que se paga ao banco. Com ele mais baixo, a prestação do tão sonhado imóvel cabe no bolso.
Deve começar a cair em março ou abril, certo?
Sim. Alguns bancos já iniciaram a redução, mas muito timidamente. Acredito que o segundo semestre de 2024 já será bem diferente, com um mercado imobiliário bem aquecido em todo o país.
Mas aí o preço do imóvel pode subir e anular a queda do juro? Valeria comprar agora, caso encontre uma boa oportunidade de negócio.
Há uns cinco anos, o Banco Central permitiu a portabilidade de financiamento. O que é isso? Eu compro hoje um apartamento em uma instituição financeira qualquer e tem uma taxa de juros. Quando a Selic cai, outros bancos reduzem taxas. Quando a sua estiver maior, você procura a instituição financeira que tiver menores e faz a portabilidade com um custo relativamente pequeno. É o melhor dos mundos. Você compra um apartamento em um preço melhor, porque ainda não teve a valorização do aumento da demanda por apartamento devido à redução de juros, e lá na frente você pega a melhor taxa. Acredito que agora é a hora de aproveitar o mercado ainda não plenamente aquecido.
Outros bancos conseguem bater as taxas da Caixa Econômica Federal?
Com exceção do programa Minha Casa Minha Vida, está competitivo. Há bancos que se especializam em determinada faixa de renda. Então, reduzem taxa para tentar bater. Em alto padrão, bancos privados têm taxas muito competitivas e conseguem fazer frente à Caixa. Sem dúvida ela é o maior financiador disparado, com condições excelentes, mas eu recomendo uma pesquisada.
Também faltou dinheiro para emprestar em financiamento imobiliário. Ajustou?
Ainda não está ideal, mas a boa notícia é que, com a redução da Selic, a tendência é que mais pessoas deixem dinheiro na poupança, que é o nosso principal "funding" (origem de recursos) de financiamento.
O governo conseguirá ampliar o Minha Casa Minha Vida para a classe média?
São dois tipos de MCMV. O primeiro é para famílias mais necessitadas, com prestação muito baixinha. O outro tem o FGTS como fundo financiador e recebe uma remuneração por esse empréstimo. Já é para família com renda de R$ 1,2 mil a uns R$ 7 mil, então pega apartamentos de até R$ 350 mil. O governo pensou em aumentar para pegar até R$ 12 mil, mas o cobertor é curto. A discussão está em andamento e pode se ajustar com a redução do juro.
Após a disparada de custos da construção, os preços dos insumos normalizaram?
É difícil ter retração de preço de imóvel. É um bem de raiz. Cimento teve queda pontual, aço não diminui. Aquele aumento da pandemia está dado. Quando sobe, a construtora reduz lançamentos. Agora, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) está comportado, em menos de 3% ao ano. Isso é bom para todo mundo, para as empresas, que podem trabalhar com previsibilidade, e para o cliente, que tem contratos reajustados pelo índice.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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